14 de abril é Dia do Café: consumo pode contribuir para prevenção de lesão renal aguda, aponta estudo

O café é uma das bebidas mais consumidas do mundo e é essencial no dia-a-dia de grande parte dos brasileiros. E a bebida possui uma grande quantidade de benefícios para a saúde. O consumo habitual de café está associado, por exemplo, a uma menor incidência de doença renal crônica. No entanto, uma associação entre café e lesão renal aguda (LRA) ainda não tinha sido descoberta.

Investigar essa associação foi justamente o objetivo de um estudo de coorte publicado na revista médica Kidney International Reports, que descobriu que o consumo regular de café pode reduzir o risco de LRA. “Comum principalmente em pessoas hospitalizadas, a lesão renal aguda é caracterizada pela perda súbita da capacidade dos rins de realizarem funções básicas como filtragem de resíduos e substâncias nocivas do sangue”, explica a médica nefrologista Dra. Caroline Reigada, especialista em Medicina Intensiva pela Associação de Medicina Intensiva Brasileira. “Causada por lesões e obstruções no rim e diminuição do fluxo de sangue para o órgão, a LRA tem como sintomas iniciais retenção de líquido e redução da quantidade de urina, podendo causar ainda fadiga, falta de apetite e de ar, náusea e confusão em casos mais graves. E a doença requer tratamento intensivo, pois pode ser fatal, mas é reversível dependendo do estado de saúde do paciente.”

Para o estudo, os pesquisadores utilizaram dados de cerca de 14 mil adultos com idade média de 54 anos recolhidos por uma pesquisa em andamento sobre doenças cardiovasculares nos EUA. Em um intervalo de 24 anos, esses indivíduos foram questionados sete vezes sobre o número de xícaras de café que consumiam diariamente, sendo que, no período da pesquisa, 1.694 desses participantes sofreram com lesão renal aguda, que, para o estudo, foi definida como hospitalizações com código de Classificação Internacional de Doenças relacionado à LRA.

Com os dados recolhidos, os autores do estudo observaram que indivíduos que bebem qualquer quantidade de café tem menor risco de desenvolver lesão renal aguda em comparação com aqueles que não consomem a bebida. E o risco de LRA em indivíduos que consomem qualquer quantidade de café seguiu a tendência do estudo mesmo após a inclusão de variáveis como idade, sexo, raça, nível educacional, consumo diário de calorias, prática de atividade física, tabagismo, ingestão de álcool, qualidade da dieta, índice de massa corporal (IMC), diabetes, uso de anti-hipertensivos e taxa de filtração glomerular estimada (TFGe), que mede a função renal.

Após levarem em consideração os dados demográficos, socioeconômicos e de estilo de vida dos participantes, os pesquisadores observaram risco 15% menor de lesão renal aguda nos indivíduos que consumiam qualquer quantidade de café em comparação àqueles que não consumiam. E os resultados foram ligeiramente atenuados, mas permaneceram estatisticamente significativos após a contabilização de fatores como IMC, diabetes, uso de anti-hipertensivos e TFGe. “A cafeína é capaz de alterar a função renal através de uma variedade de mecanismos, incluindo natriurese (eliminação de sódio na urina) e modificação da hemodinâmica renal e do sistema renina-angiotensina-aldosterona (responsável por regular a pressão arterial), que são fatores importantes no desenvolvimento de LRA. Outras hipóteses que podem explicar os efeitos protetores do café estão relacionadas a mecanismos não-renais, como inflamação reduzida, função endotelial aprimorada e sensibilidade à insulina melhorada”, diz a Dra. Caroline Reigada.

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As conclusões da pesquisa não querem dizer, é claro, que o consumo de café deve ser feito de maneira exagerada. “Além de mais pesquisas sobre o tema serem necessárias, o café, se consumido em excesso, pode ter o efeito contrário e acabar prejudicando o rim. Isso porque a bebida é rica em oxalato, substância que pode se acumular nos rins e favorecer a formação de cálculos renais, popularmente conhecidos como pedras”, diz a médica. Os pesquisadores ressaltam que mais pesquisas são necessárias justamente para estabelecer o motivo pelo qual o café atua na prevenção da lesão renal aguda, assim como para verificar se os aditivos constantemente usados no café, como açúcar e leite, podem ter algum impacto nos resultados.

“Pesquisas como essas mostram-se especialmente importantes pelo fato de a lesão renal aguda ser uma condição difícil de ser prevista e, consequentemente, prevenida. A melhor maneira de evitar a condição é através da adoção de um estilo de vida saudável com hábitos que vão favorecer a saúde dos rins, como ingestão de água, adoção de uma alimentação balanceada e prática de exercícios físicos. Além disso, não fume e evite o consumo excessivo de sal e bebidas alcóolicas”, aconselha a nefrologista.

Uma vez diagnosticado, o tratamento da lesão renal aguda pode variar de acordo com a causa que levou à diminuição da função dos rins, podendo incluir mudanças no estilo de vida, principalmente na alimentação, diálise e uso de medicamentos diuréticos. “O mais importante é consultar um médico para receber o diagnóstico e tratamentos adequados”, finaliza a Dra. Caroline Reigada.

Fonte: Dra. Caroline Reigada – Médica nefrologista formada pela Faculdade de Medicina da Universidade de Santo Amaro, com residência médica na Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo e residência em Nefrologia no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Especialista em Medicina Intensiva pela Associação de Medicina Intensiva Brasileira, a médica participa periodicamente de cursos e congressos, além de ter publicado uma série de trabalhos científicos premiados. Participou do curso “The Brigham Renal Board Review Course” em Harvard. Integra o corpo clínico de hospitais como São Luiz, Beneficência Portuguesa de São Paulo e Hospital Alemão Oswaldo Cruz. Instagram: @dracaroline.reigada.nefro