Principalmente no ciclo escolar básico, mas também nos mais avançados, a importância dos cuidados familiares em relação à alimentação e ao sono dos educandos é parte inerente de uma boa aprendizagem.

Patologias de diversas ordens interferem no processo educativo, das mais complexas às mais simples, como é o caso dos problemas do sono;

 

 

a criança que não dorme bem certamente estará na escola irritada, sonolenta, com dificuldade de manter atenção nas atividades escolares, agitada, e principalmente ansiosa. Será muito difícil que professores possam obter sua atenção e conseguir um bom ambiente educacional.

Problemas de memória são comuns naqueles que porventura não dormem bem, e a perda da capacidade de concentração é relatada até em adultos, e insônias, angústias noturnas, falas durante o sono, sonambulismo e outros distúrbios podem permanecer décadas se não forem adequadamente tratados.

Quanto à alimentação, embora esta esteja essencialmente voltada à sobrevivência, tem um aspecto emocional forte, representa um dos atos de relacionamento de cada indivíduo com o mundo, e embora os transtornos do sono e da alimentação façam parte de uma etapa normal no desenvolvimento humano, pois a conquista da independência e a formação da personalidade envolvem estes fatores, a distinção entre normalidade e disfunção só podem ser elucidadas pela dinâmica familiar, não existem técnicas milagrosas ou remédios maravilhosos no âmbito escolar.

A existência de anorexias, bulimias e outros transtornos alimentares dificilmente será percebida pela instituição escolar. Mesmo sendo a alimentação fundamental para o crescimento e a saúde, esta não é a ênfase de uma escola, tendo inclusive o momento do “recreio” dos estudantes igual importância para eles na alimentação e nas brincadeiras, jogos, conversas. Portanto, a menos de alguma confidência a amigos, que os relatem aos professores ou coordenadores, será raro que a instituição esteja ciente destes problemas. Inclusive porque jovens tem um código de não delação muito forte, e dificilmente percebem o quanto algumas informações seriam valiosas para os adultos, vindo em benefício daquele a quem, por razões morais, não querem “entregar”.

Comida é grande fonte de experiências psíquicas, revelando muito sobre os condicionantes socioculturais, e até problemas psicológicos, o apetite não é só ocorrência orgânica, já que pode manter-se muito depois da fome ter acabado, levando a obesidades mórbidas, ou pode não aparecer simplesmente. Os dois extremos são perceptíveis, mas os estados intermediários, mais facilmente tratáveis, não.

Nada substitui um lar carinhoso, com pais e mães atentos, embora o procedimento escolar deva envolver também docentes e dirigentes educacionais com vocação para o magistério, com paciência e solidariedade, pois o desenvolvimento humano é complexo. Em que pese muitos estudos já realizados, nem todos foram conclusivos, e com todo o progresso já documentado sobre as operações cognitivas e psicossociais, poucos questionamentos de pais e professores foram adequadamente respondidos sobre o tema.

O ser humano é uma totalidade, envolvendo não apenas o corpo físico mas também espírito e cognição, as mudanças nele ocorridas em cada fase de desenvolvimento entrelaçam todos estes aspectos.

Desde o século XIX a preocupação com o correto desenvolvimento de uma criança tem ocupado pesquisadores, sabe-se que hereditariedade e meio ambiente são importantes, mas nada parece sobrepujar a influência do amor.

 

 

*Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil.