A alimentação saudável deve ser prioritária em qualquer estágio da vida, mas quando começamos a envelhecer, essa recomendação se faz ainda mais necessária e deve ser seguida com rigor. Um estudo recente, publicado na edição de novembro do periódico Brain, Behavior, and Immunity destaca que apenas quatro semanas em uma dieta de alimentos altamente processados levaram a uma forte resposta inflamatória no cérebro de ratos idosos que foi acompanhada por sinais comportamentais de perda de memória.
“Alimentos ultraprocessados são formulações industriais fabricadas a partir de substâncias extraídas ou derivadas de outros alimentos (sal, açúcar, óleos, proteínas e gorduras) e sintetizadas em laboratório (corantes, aromatizantes, conservantes e aditivos). No geral, os alimentos ultraprocessados possuem sabor mais agradável e um grande prazo de validade, mas são pobres nutrologicamente e ricos em calorias, gorduras e aditivos químicos, favorecendo então a ocorrência de deficiências nutricionais, doenças do coração, diabetes, colesterol e obesidade. São exemplos as bolachas, guloseimas, sorvetes, bolos, carnes como salsichas e produtos congelados e prontos para o consumo”, explica a médica nutróloga Dra. Marcella Garcez, diretora e professora da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN).
Os pesquisadores também descobriram que a suplementação da dieta processada com ácido graxo ômega-3 DHA evitou problemas de memória e reduziu os efeitos inflamatórios quase inteiramente em ratos mais velhos. “Existem nutrientes que contam com propriedades benéficas para a memória. O ômega-3, presente nos peixes como salmão e atum, além das nozes, auxilia na comunicação entre os neurotransmissores, fazendo com que a memória e a concentração sejam fortalecidas. Para estudar, por exemplo, sua ingestão é recomendada, pois facilita bastante no processo de aprendizado”, diz o geriatra e nutrólogo Dr. Juliano Burckhardt, membro do Corpo Clínico do Hospital Sírio Libanês, da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG) e da Associação Brasileira de Nutrologia.
Segundo o estudo, a neuroinflamação e problemas cognitivos não foram detectados em ratos adultos jovens que comeram a dieta processada. A dieta do estudo imitou alimentos humanos prontos para comer que muitas vezes são embalados para longa vida útil, como batatas fritas e outros lanches, pratos congelados como pratos de massa e pizzas e frios contendo conservantes.
“A alimentação está muito relacionada ao envelhecimento saudável, e a prevenção de Alzheimer! Alguns dados científicos já são muito fortes quanto a redução de risco da doença, como: retirada de refrigerantes, preferir proteínas magras, reduzir alimentos gordurosos e ricos em colesterol, remover completamente o açúcar refinado e alimentos processados e preferir alimentos sem sódio ou com alta restrição de sódio na sua composição”, explica o Dr. Gabriel Novaes de Rezende Batistella, médico neurologista e neuro-oncologista, membro da Society for Neuro-Oncology Latin America (SNOLA).
Segundo a médica nutróloga, o fato de pesquisa demonstra que esses efeitos são sentidos rapidamente é um grande sinal de alerta. “Essas descobertas indicam que o consumo de uma dieta processada pode produzir déficits de memória abruptos e significativos – e na população em envelhecimento, o declínio rápido da memória tem uma maior probabilidade de progredir para doenças neurodegenerativas, como a doença de Alzheimer. Por estarmos cientes disso, talvez nós podemos limitar os alimentos processados em nossas dietas e aumentar o consumo de alimentos ricos em ômega-3 (DHA) para prevenir ou retardar essa progressão”, explica a médica.
A médica nutróloga explica que o DHA, ou ácido docosahexaenóico, é um ácido graxo ômega-3 que está presente junto com o ácido eicosapentaenóico (EPA), outro ômega-3, em peixes e outros frutos do mar. “Entre as múltiplas funções do DHA no cérebro está o papel de inibir uma resposta inflamatória – este é o primeiro estudo de sua capacidade de agir contra a inflamação cerebral provocada por uma dieta rica em alimentos processados e ultraprocessados”, diz a Dra. Marcella.
A equipe de pesquisa designou aleatoriamente ratos machos de 3 e 24 meses de idade a sua ração normal (32% de calorias de proteínas, 54% de carboidratos complexos à base de trigo e 14% de gordura), uma dieta altamente processada (19,6 % de calorias de proteínas, 63,3% de carboidratos refinados – amido de milho, maltodextrina e sacarose – e 17,1% de gordura), ou a mesma dieta processada suplementada com DHA. A ativação de genes ligados a uma proteína pró-inflamatória poderosa e outros marcadores de inflamação foi significativamente elevada no hipocampo e amígdala dos ratos mais velhos que comeram a dieta processada sozinhos em comparação com os ratos jovens em qualquer dieta e ratos idosos que comeram o suplemento de DHA comida processada.
Segundo o estudo, os ratos mais velhos na dieta processada também mostraram sinais de perda de memória em experimentos comportamentais que não eram evidentes nos ratos jovens. Os resultados também mostraram que a suplementação de DHA nas dietas de alimentos processados consumidos pelos ratos mais velhos preveniu efetivamente a elevada resposta inflamatória no cérebro, bem como os sinais comportamentais de perda de memória. Apesar de proteger o cérebro, a suplementação de DHA não teve efeito preventivo sobre o ganho de peso associado à ingestão de alimentos altamente processados.
“Por esse motivo, quando falamos em pacientes, precisamos ter em mente que precisa haver uma diminuição expressiva dos alimentos ultraprocessados e não só a adição de uma suplementação de ômega-3. Nesse sentido, a orientação do médico nutrólogo é fundamental”, diz a Dra. Marcella. “Isso não pode gerar uma interpretação equivocada dos resultados, como uma licença para os consumidores se deliciarem com alimentos processados, desde que tomem um suplemento de DHA. Uma aposta melhor para evitar vários efeitos negativos de alimentos altamente refinados seria se concentrar na melhoria geral da dieta”, finaliza a Dra. Marcella Garcez.
Fonte: assessoria de imprensa