A forma como os hormônios interferem em nossos comportamentos acontecem em um nível que sequer imaginamos. Pesquisadores de Harvard descobriram que o hormônio da fome, a grelina, influencia até em decisões monetárias.
Esta pesquisa apresenta novas evidências em humanos de que a grelina, o chamado ‘hormônio da fome’, afeta a tomada de decisão monetária. Isso confirma o que outras descobertas recentes, de pesquisas em roedores, concluíram sobre o papel desse hormônio, produzido principalmente no trato gastrointestinal, nas escolhas e comportamentos impulsivos. Quem tem maiores níveis de grelina tende a ter mais comportamentos impulsivos, não só ligados ao comportamento alimentar, como também em questões monetárias.
Os participantes do estudo foram solicitados a fazer uma série de escolhas para indicar sua preferência por uma recompensa monetária menor, mas imediata, ou uma quantia maior de dinheiro a receber em mais tempo, por exemplo, $20 hoje ou $80 em 14 dias. Quem tinha maiores níveis de grelina preferiam a recompensa imediata, mas menor, indicando um comportamento impulsivo.
Os resultados indicam que a grelina pode desempenhar um papel mais amplo do que anteriormente reconhecido no comportamento humano. A grelina sinaliza ao cérebro a necessidade de comer e pode modular as vias cerebrais que controlam o processamento da recompensa. Os níveis de grelina flutuam ao longo do dia, dependendo da ingestão de alimentos e do metabolismo individual.
Este estudo incluiu 84 participantes do sexo feminino com idades entre 10 e 22 anos: 50 com um transtorno alimentar de baixo peso, como anorexia nervosa, e 34 participantes saudáveis do controle. A equipe de pesquisa testou os níveis sanguíneos de grelina total antes e depois de uma refeição padronizada que era a mesma para todos os participantes, que haviam jejuado antes. Após a refeição, os participantes fizeram um teste de decisões financeiras hipotéticas, chamado de tarefa de desconto por atraso.
Eles foram solicitados a fazer uma série de escolhas para indicar sua preferência por uma recompensa monetária imediata menor ou uma quantia maior de dinheiro, mas recebidos em tempo maior. Meninas saudáveis e mulheres jovens com níveis mais altos de grelina eram mais propensas a escolher a recompensa monetária imediata, mas menor, em vez de esperar por uma quantia maior de dinheiro, relataram os pesquisadores. Essa preferência indica escolhas mais impulsivas.
A relação entre o nível de grelina e as escolhas monetárias estava ausente em participantes da mesma idade com um transtorno alimentar de baixo peso. Pessoas com esse transtorno alimentar são conhecidas por terem resistência à grelina.
Estratégias para controlar esse hormônio incluem uma mudança no estilo de vida pessoal e nos hábitos familiares e sociais, que influenciam muito a ingesta alimentar. Hábitos alimentares inadequados impactam negativamente o consumo alimentar. Ter uma alimentação equilibrada, o mais variada possível, comer em horários regulares, consumir alimentos que dão mais saciedade, como proteínas magras, gorduras boas e fibras (que demoram mais para serem digeridas), também são ações que podem ajudar a reduzir os sentimentos irresistíveis de fome, o que pode ajudar a controlar esse hormônio e os comportamentos impulsivos.
*dra. Marcella Garcez: Médica Nutróloga, Mestre em Ciências da Saúde pela Escola de Medicina da PUCPR, Diretora da Associação Brasileira de Nutrologia e Docente do Curso Nacional de Nutrologia da ABRAN. A médica é Membro da Câmara Técnica de Nutrologia do CRMPR, Coordenadora da Liga Acadêmica de Nutrologia do Paraná e Pesquisadora em Suplementos Alimentares no Serviço de Nutrologia do Hospital do Servidor Público de São Paulo.