Ação da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira e da ApexBrasil (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos) vai habilitar empresas a exportar alimentos de valor agregado para países muçulmanos, num esforço de ampliar a pauta de exportação hoje prevalente em commodities alimentares.
A iniciativa Halal do Brasil, como é chamada a ação conjunta, prevê investimento de R$ 15,4 milhões nos próximos 30 meses em ações de promoção comercial no exterior, além de subsídio a empresas interessadas em adotar certificação halal para seus produtos, que atesta manufatura conforme às tradições do islamismo, funcionando, na prática, como um passaporte de acesso a esses mercados.
Segundo Tamer Mansour, secretário-geral da Câmara Árabe, a meta é habilitar 500 fabricantes de alimentos e bebidas com produtos de valor agregado no portfólio e já em fase de internacionalização a participar do mercado mundial de alimentação halal, que reúne 1,9 bilhão de consumidores, movimenta US$ 1,267 trilhão por ano e tem perspectiva de crescer 7,1% até 2025, segundo o relatório State of the Global Islamic Economy 2022.
“Queremos ver o Brasil ampliar participação nos países islâmicos com categorias de produtos de valor agregado, principalmente alimentos beneficiados, aproveitando a competitividade no segmento, a longa relação com os mercados islâmicos e a boa reputação do halal brasileiro nesses países, conquistada em função do comércio de proteína, desde os anos 1970”, afirma Mansour.
Segundo ele, as ações de promoção vão priorizar feiras em mercados muçulmanos. Entre os países prioritários, além dos 22 estados da Liga Árabe, está a Malásia, que viu no estímulo à produção halal uma política eficiente de industrialização e de fomento à exportação, sendo ainda uma referência em marketing aplicado ao consumo islâmico.
A promoção também vai mirar países com papel importante no mundo muçulmano, como Indonésia, França, Alemanha, Reino Unido e África do Sul. O primeiro abriga a maior população islâmica do mundo e começa a ter contato com a proteína brasileira. Os europeus têm expressivas populações muçulmanas e de alto poder aquisitivo. Já a África do Sul vem se firmando como hub halal.
No campo diplomático, as embaixadas brasileiras nos países-alvo vão buscar diálogo com governos e entidades para promover o halal nacional. “Já estamos nesse caminho com alimentos e bebidas, segurança e defesa, petróleo e gás natural, higiene pessoal e cosméticos, casa e construção”, disse em julho último o presidente da ApexBrasil, Augusto Pestana, ao comentar a iniciativa conjunta com a Câmara Árabe no Fórum Econômico Brasil-Países Árabes.
Dados compilados pela Câmara Árabe-Brasileira mostram que, em 2021, o Brasil exportou US$ 16,5 bilhões em alimentos e bebidas para os 57 países da Organização para Cooperação Islâmica (OCI), com participação de 7,2% do total de US$ 230,4 bilhões importados pelo bloco.
O resultado, embora tenha posicionado o Brasil na segunda colocação entre os fornecedores de alimentos e bebidas do mundo muçulmano, atrás apenas da Índia, ainda é lastreado em commodities de baixo valor agregado, como açúcar, soja, frango e milho, o que dá a medida do potencial a explorar nos segmentos de maior beneficiamento.
Na avaliação de Tamer Mansour, o avanço do Brasil no mercado islâmico de alimentação ainda esbarra na baixa oferta de produtos processados com certificação halal, razão pela qual a cooperação com a Apex Brasil quer estimular a adoção do selo entre as empresas.
Obrigatório para vários tipos de alimentos importados pelos países da OCI, mas também para outros produtos, o selo halal atesta ao consumidor muçulmano que o artigo em questão foi fabricado em respeito a suas crenças e aos preceitos do islamismo.
O selo garante, por exemplo, que o alimento beneficiado é livre de derivados suínos, cujo consumo é vedado ao muçulmano. Também atesta que produtos de origem animal vêm de processos de abate islâmico, com ações para evitar, inclusive, contaminação cruzada.
De acordo com Mansour, o estímulo à certificação também vai contribuir com o marketing do alimento halal brasileiro, já que nos países muçulmanos esse tipo de produto é associado à produção socialmente responsável e a um estilo de vida saudável.
O dirigente lembra ainda que o conceito halal (do árabe, aquilo que é lícito) estabelece regras não só para alimentos, mas também cosméticos, artigos de higiene pessoal, medicamentos, moda, entretenimento, turismo e até para o sistema financeiro islâmico.
“Se o Brasil estiver disposto a cumpri-las, como já faz com as proteínas, pode se tornar relevante em todos esses segmentos, pois já é uma referência de respeito às crenças muçulmanas, embora muitos brasileiros ainda não saibam”, diz Mansour.
Fonte: assessoria de imprensa