Saber o plano de ação em casos de reações alérgicas alimentares e agir rapidamente pode ajudar a evitar complicações graves e potencialmente fatais.
Extremamente comuns, as alergias alimentares são reações adversas do sistema imunológico a determinados alimentos, que, em alguns casos, podem ser graves e fatais. O organismo identifica certas proteínas como nocivas, ativando uma resposta imunológica exagerada que afeta vários sistemas do corpo. Dessa forma, é fundamental que indivíduos com alergia alimentar, assim como familiares e cuidadores, estejam bem-informados e preparados para lidar com possíveis reações alérgicas.
De maneira geral, podemos citar oito alimentos que são responsáveis pela maioria das reações alérgicas alimentares. Os “oito grandes alérgenos” incluem leite, ovos (especialmente a clara), amendoim, oleaginosas (nozes, amêndoas, avelãs), peixes, frutos do mar, soja (comum em crianças e superada na infância) e trigo (reação a várias proteínas, não só ao glúten).
Os sintomas podem variar amplamente caso a caso e, geralmente, aparecem dentro de minutos a algumas horas após a ingestão do alimento alérgeno. Na pele, podem surgir urticárias, prurido, eczema e angioedema, que é um inchaço das camadas mais profundas da pele. Já os sintomas gastrointestinais incluem dor abdominal, náuseas, vômitos e diarreia. Com relação aos sintomas respiratórios, podemos citar congestão nasal, rinorreia, espirros, tosse, chiado no peito, dificuldade para respirar e edema da glote, que é um inchaço na garganta que pode dificultar a respiração. Também podem ocorrer sintomas cardiovasculares, incluindo tontura, desmaio, queda da pressão arterial e palpitações. Por fim, há o risco de anafilaxia, que é uma reação alérgica grave e potencialmente fatal, com sintomas como inchaço da garganta e dificuldade para respirar, queda acentuada da pressão arterial, perda de consciência, pulso rápido e fraco, erupções cutâneas generalizadas e coceira, além de sintomas neurológicos como confusão e ansiedade.
Ao perceber tais sintomas, é fundamental agir rapidamente e de maneira apropriada para evitar complicações. Primeiro, é importante reconhecer e identificar a gravidade dos sintomas para, em seguida, administrar a medicação adequada. Para sintomas leves a moderados, são indicados anti-histamínicos. Já para sintomas graves ou sinais de anafilaxia, é recomendado o uso do autoinjetor de epinefrina. Em casos de sintomas graves ou após administração de epinefrina, é fundamental também ligar imediatamente para o serviço de emergência. Enquanto a ajuda médica não chega, posicione a pessoa corretamente para facilitar a respiração, na posição sentada, semissentada ou deitada de lado se estiver inconsciente e monitore-a constantemente. Se os sintomas não melhorarem dentro de 5 a 15 minutos após a primeira dose de epinefrina e a ajuda médica ainda não tiver chegado, administre uma segunda dose do medicamento. E mesmo que a pessoa pareça melhorar, ainda é fundamental que haja uma avaliação em um hospital. Reações bifásicas podem ocorrer, com os sintomas retornando após um período de melhora.
Uma vez estabilizado o quadro, em caso de suspeita de alergia alimentar, o mais importante é buscar um médico especialista em alergologia/imunologia. O especialista pode pedir histórico médico, diário alimentar, exames de sangue, teste de provocação oral com doses crescentes do alimento suspeito sob supervisão, dieta de eliminação, teste cutâneo com alimentos e análise de componentes específicos das proteínas que causam alergias.
Identificar a alergia alimentar é fundamental para prevenir novas reações, o que envolve uma combinação de estratégias. Por exemplo, é importante evitar os alimentos alergênicos com a leitura de rótulos, perguntar sobre ingredientes ao comer fora e utilizar produtos seguros. Também tome cuidado na cozinha devido à contaminação cruzada. O ideal é utilizar utensílios de cozinha separados. É essencial treinar amigos e familiares para reconhecer reações alérgicas e usar um autoinjetor de epinefrina.
Sempre carregue um autoinjetor de epinefrina, anti-histamínicos e qualquer outra medicação prescrita e tenha um plano de ação claro para emergências alérgicas. É interessante também usar um bracelete ou colar que informe sobre a alergia alimentar. Além disso, realizar consultas médicas regulares com um alergista para monitorar a condição, ajustar o plano de manejo e atualizar tratamentos.
Vale ressaltar ainda que, na infância, uma introdução alimentar com orientação do pediatra e amamentação exclusiva até seis meses são estratégias que podem ajudar a prevenir o desenvolvimento de alergias alimentares.
Fonte: Dra. Marcella Garcez – Médica Nutróloga, Mestre em Ciências da Saúde pela Escola de Medicina da PUCPR, Diretora da Associação Brasileira de Nutrologia e Docente do Curso Nacional de Nutrologia da ABRAN. A médica é Membro da Câmara Técnica de Nutrologia do CRMPR, Coordenadora da Liga Acadêmica de Nutrologia do Paraná e Pesquisadora em Suplementos Alimentares no Serviço de Nutrologia do Hospital do Servidor Público de São Paulo. Além disso, é membro da Sociedade Brasileira de Medicina Estética e da Sociedade Brasileira para o Estudo do Envelhecimento. Instagram: @dra.marcellagarcez