O alto risco da dieta carnívora: comer mais carne vermelha processada faz mal ao cérebro, diz estudo
Um estudo publicado na Neurology, periódico da Academia Americana de Neurologia, em janeiro mostra que pessoas que consomem mais carne vermelha processada, como bacon e salsicha, têm maior risco de declínio cognitivo e demência em comparação com aquelas que consomem menos.
“Nos últimos anos, tem surgido muita desinformação e um maior estímulo ao consumo de carne vermelha. Esse é um alimento importante, mas não deve ser a base da alimentação. A carne vermelha contém muita gordura saturada. Assim,  estudos mostram que seu consumo excessivo eleva o risco de diabetes tipo 2 e doenças cardíacas. Desse modo, ambos ligados à redução da saúde cerebral, explica a médica nutróloga Dra. Marcella Garcez, diretora e professora da Associação Brasileira de Nutrologia.
Influenciadores da dieta carnívora frequentemente incentivam o consumo de gordura da carne, manteiga e bacon.

Segundo a médica, o estudo descobriu que a carne vermelha processada pode aumentar o risco de declínio cognitivo e demência.

A médica nutróloga comenta que substituir a carne por nozes, peixes e aves pode reduzir o risco de declínio cognitivo.
Assim, os pesquisadores acompanharam 133.771 pessoas com média de 49 anos, sem demência no início, por até 43 anos. Durante o estudo, 11.173 desenvolveram demência. Os participantes registraram sua alimentação a cada dois a quatro anos.
Então, eles definiram a carne vermelha processada como bacon, cachorro-quente, salsicha, salame, mortadela e outros produtos de carne processada. Por outro lado, definiram a carne vermelha não processada como carne bovina, suína, cordeiro e hambúrguer. Assim, uma porção de carne vermelha processada tem 85g, aproximadamente o tamanho de um baralho de cartas.
O grupo baixo consumiu menos de 0,10 porções/dia (menos de 60g/semana). Por outro lado, o grupo médio entre 0,10 e 0,24 porções/dia (60g a 143g/semana) e o grupo alto, 0,25 ou mais porções/dia (mais de 144g/semana).
Segundo a médica, após ajustes para idade, sexo e outros fatores, os pesquisadores descobriram que o grupo de alto consumo tinha 13% mais risco de desenvolver demência do que o grupo de baixo consumo.
Para medir o declínio cognitivo subjetivo, os pesquisadores analisaram um grupo diferente de 43.966 participantes com idade média de 78 anos. “O declínio cognitivo subjetivo ocorre quando uma pessoa relata problemas de memória e pensamento antes que qualquer declínio seja grande o suficiente para aparecer em testes padrão. O grupo com declínio cognitivo subjetivo respondeu a pesquisas avaliando suas próprias habilidades de memória e pensamento duas vezes durante o estudo”, explica a médica.
“Após ajustar fatores como idade, sexo e outros fatores de risco para declínio cognitivo, os pesquisadores descobriram que os participantes que comeram uma média de 0,25 porções ou mais por dia (ou mais de 144g por semana) de carne vermelha processada tiveram um risco 14% maior de declínio cognitivo subjetivo em comparação com aqueles que comeram uma média de menos de 0,10 porções por dia”, explica a médica nutróloga.
“Definitivamente, a carne vermelha processada não deve fazer parte da rotina alimentar. Ela pode ser consumida com moderação, em pequenas quantidades e esporadicamente”, diz a Dra. Marcella.
Os pesquisadores também descobriram que pessoas que comiam uma ou mais porções de carne vermelha não processada por dia tinham um risco 16% maior de declínio cognitivo subjetivo em comparação com pessoas que comiam menos da metade da porção por dia (menos de 300g por semana).
A médica afirma que os pesquisadores descobriram que substituir uma porção diária de carne vermelha processada por nozes e leguminosas reduziu o risco de demência em 19% e diminuiu o envelhecimento cognitivo em 1,37 anos.
“Fazer a mesma substituição por peixe foi associado a um risco 28% menor de demência e substituir por frango foi associado a um risco 16% menor de demência. Ou seja, se a questão é adequar o consumo proteico, essas opções são infinitamente mais saudáveis para o cérebro”, constata a Dra. Marcella.
“Reduzir a quantidade de carne vermelha processada que uma pessoa come e substituí-la por outras fontes de proteína animais como carnes magras e não processadas, ovos, laticínios e opções baseadas em vegetais pode ser incluído nas diretrizes alimentares para promover a saúde cognitiva”, finaliza a médica nutróloga.

Fonte: *Dra. Marcella Garcez: Médica nutróloga, Mestre em Ciências da Saúde pela Escola de Medicina da PUCPR, Diretora da Associação Brasileira de Nutrologia e Docente do Curso Nacional de Nutrologia da ABRAN. A médica é Membro da Câmara Técnica de Nutrologia do CRMPR, Coordenadora da Liga Acadêmica de Nutrologia do Paraná e Pesquisadora em Suplementos Alimentares no Serviço de Nutrologia do Hospital do Servidor Público de São Paulo. Além disso, é membro da Sociedade Brasileira de Medicina Estética e da Sociedade Brasileira para o Estudo do Envelhecimento. Instagram: @dra.marcellagarcez