Temos sempre que discutir a importância do tipo de alimentação para manter a saúde dos indivíduos. Agora, uma nova perspectiva científica introduz outro conceito, muito importante também: de que precisamos discutir o tipo de alimentação dos indivíduos para a saúde do nosso planeta!
Isso foi fundamentado em um artigo publicado pela revista científica britânica Nature Food, no dia 18 de fevereiro, que destacou a influência da nossa alimentação para as mudanças climáticas que a Terra vem sofrendo. Aliás, o último relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas das Nações Unidas (IPCC) já havia repercutido este tema, que lança um novo olhar dentro dos estudos do aquecimento global.
O que se revela agora é que o uso da terra e o consumo de alimentos são fatores determinantes para o fenômeno de mudanças climáticas. A professora de Planejamento Energético da Coppe/UFRJ, Joana Portugal Pereira, foi uma das autoras do artigo da Nature Food e em uma entrevista à revista Época, ela explica melhor a relação entre o que comemos e o clima do planeta:
“Temos muitas campanhas de redução de água nos ambientes domésticos, mas não podemos esquecer que nossos pratos devoram água. Ao longo de toda a vida de uma vaca, de um boi, em média temos o consumo de 12 mil a 16 mil litros de água por quilograma de carne. A ração consome água, o animal bebe água. Em cenários de escassez hídrica, com mudanças climáticas e maior frequência de eventos extremos, é um ponto a se considerar. O que defendemos é aumentar a informação disponível para o consumidor, torná-lo mais consciente dos impactos de suas ações no dia-a-dia.”
Quem trabalha por uma alimentação mais saudável, já caminha nessa direção há anos. É o caso do Instituto Melhores Dias, do qual sou presidente, que realiza programas que incentivam o consumo de frutas, legumes, verduras e cereais no cotidiano de crianças brasileiras desde 1993. Promovemos a construção de hortas orgânicas escolares e o uso de tudo que é colhido.
As crianças saem da sala de aula para interagir com o meio ambiente e despertam o cuidado através do estabelecimento de uma relação direta com o solo, a água e as plantas.
Essa intervenção, de mexer na terra, cultivá-la e colher plantas, é muito produtiva e pedagógica, além de nutritiva, pois auxilia no consumo de alimentos saudáveis e informa sobre a procedência e produção dos alimentos. Isso contribui para a aprendizagem contextualizada e a formação humana e cidadã das crianças.
A agricultura e a importância de seus produtos deveriam estar mais presentes na vida escolar. O Instituto Melhores Dias, insistentemente fala sobre a riqueza dos alimentos regionais brasileiros, estimula seu consumo nas diferentes localidades onde atua e até ressalta a importância das abelhas nativas brasileiras para este processo.
Existe uma cultura de consumo da carne, mas vivemos um momento de reflexão sobre sua importância e, principalmente sobre os substitutos vegetais que podem suprir as necessidades proteicas de nossas crianças.
Toda e qualquer atitude na direção de melhorar a vida no planeta Terra e de deixar um legado saudável para futuras gerações é emergencial e imediata. Por isso rever hábitos alimentares, procurar mudanças saudáveis e ter abertura para novos hábitos se faz indispensável.
Avalie seu cardápio, alimente-se melhor, com mais colorido natural em seu prato. Consuma mais grãos, frutas, legumes, verduras… Essa dica antiga nunca foi tão moderna quanto agora.
*Joyce Capell é Presidente do Instituto Melhores Dias