Presença constante na vida dos brasileiros, nos últimos meses, assuntos como a fome no Brasil, o aumento da insegurança alimentar em todas as regiões e o impacto que a pandemia COVID-19 causou na mesa da população brasileira conduzem ao questionamento: o que é a insegurança alimentar? A insegurança alimentar acontece quando um dos direitos básicos do indivíduo não está garantido, direito esse que é o acesso de forma REGULAR e PERMANENTE a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente para garantir a sobrevivência e sem afetar outras necessidades básicas. Assim ocorrendo diferentes níveis de insegurança alimentar, onde no mais grave deles a fome é constante.
É preciso esclarecer que o indivíduo mais vulnerável, aquele que está em situação de rua, não é o único que convive com a fome. Muitos trabalhadores não conseguem se alimentar de forma adequada e constante, muito menos, conseguem prover para a sua família. De acordo com o Segundo Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia de Covid-19 no Brasil, no ano de 2022 mais de 33 milhões de pessoas não tinham o que comer e mais da metade da população brasileira (58,7%) apresentava algum grau de insegurança alimentar.
Para enfrentar a fome, diversas iniciativas são estudadas e implementadas. Políticas públicas de combate à fome não são novidade em nosso país. Um exemplo é o Programa Municipal Restaurante Popular estabelecido, no ano de 2003, em Curitiba, com o propósito de oferecer refeição nutricionalmente adequada à população em situação de insegurança alimentar e nutricional, representando resultado extremamente positivo para a população atendida.
Em Curitiba, no ano de 2019, a parceria entre a prefeitura da cidade e entidades públicas e privadas deu origem ao programa Mesa Solidária, onde são oferecidos diariamente, café da manhã, almoço e jantar gratuitos para as pessoas que se encontram nesta situação. Quase seis mil refeições ao dia são servidas entre Restaurante Popular e Mesa Solidária, na capital paranaense. Dentre outros projetos firmados na cidade podem ser citados o Armazém da Família onde itens da cesta básica custam 30% menos do que em mercados convencionais, os Sacolões da Família onde frutas e hortaliças possuem valor aproximadamente 53% mais baixo e a Fazenda Urbana que é um centro de educação voltado para a prática agrícola sustentável, tendo os itens cultivados disponibilizados ao programa Mesa Solidária.
Da mesma maneira que cresce a fome, observa-se o desperdício de alimentos, de acordo com Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) um terço dos alimentos produzidos são desperdiçados diariamente. São aproximadamente 39 mil toneladas de comida em condições de serem aproveitadas que vão para o lixo todos os dias. Pensando nisso, muitos programas assistenciais incentivam os comerciantes a realizarem a doação de itens sem valor comercial para que sejam transformados em refeição aos que precisam. Desta forma, alimentos que não podem ser expostos a venda por não estarem atrativos, mas que estão em perfeitas condições de consumo acabam virando matéria prima para a elaboração das refeições servidas no programa Mesa Solidária e em tantos outros projetos ativos liderados pelo poder público ou pela própria comunidade.
O exemplo mostra que os cidadãos podem contribuir com a sociedade em que vivem, ao passo em que esperam do poder público atitudes para combater a fome. A movimentação conjunta e ativa da comunidade torna os resultados mais efetivos e rápidos, seja em ações coletivas ou individuais. Assim, as pessoas ajudam a mudar o cenário de insegurança alimentar local, auxiliando no combate à fome e formando uma corrente onde cada um representa um elo de força.
Elaine Cristine de Souza Martins é professora na Escola Superior de Saúde Única (ESSU) e tutora do curso de Nutrição Uninter. Graduada em Nutrição, especialista em Nutrição Clínica e Fitoterápica.