As carnes feitas a partir de plantas, popularmente conhecidas como “carnes do futuro”, e os “laticínios” de origem vegetal têm ganhado cada vez mais popularidade entre aqueles que desejam reduzir o consumo de ingredientes de origem animal ou estão começando a adotar o vegetarianismo ou o veganismo como estilo de vida. Esses produtos feitos a partir de plantas são especificamente desenvolvidos para tentar replicar o gosto, o aroma, a textura e a experiência geral de alimentos de origem animal. E, para muitas pessoas, é mais fácil optar por produtos com essas características como forma de reduzir o consumo de carnes e laticínios em vez de simplesmente abandonar toda a experiência dos alimentos de origem animal em troca de cozinhar alimentos vegetais in natura.
E, segundo uma revisão recente publicada no periódico cientifico Future Foods, as carnes e laticínios feitos a partir de plantas são alternativas mais saudáveis e ambientalmente sustentáveis aos alimentos de origem animal. Claro, é necessário sempre avaliar a tabela nutricional e a lista de ingredientes de cada alimento, tomando cuidado com o excesso de conservantes e ingredientes químicos que podem trazer problemas de saúde.
Para chegar a essa conclusão, os pesquisadores examinaram 43 estudos que abordavam os impactos dos alimentos à base de plantas no meio ambiente e na saúde do consumidor. Na questão ambiental, uma das conclusões levantadas foi que, de maneira geral, a produção de alimentos à base de plantas requer menos terra para agricultura, utiliza menos água e causa menos poluição do que os alimentos de origem animal.
Já os estudos analisados pelos pesquisadores que focavam no quesito “saúde” dos alimentos feitos a partir de plantas apontavam, por exemplo, que esses produtos tendem a possuir um perfil nutricional melhor do que produtos de origem animal, principalmente com relação a gorduras saturadas, colesterol, fibras e uma variedade de outros nutrientes. Alguns dos artigos inclusive sugeriam que carnes e laticínios de origem vegetal podem beneficiar a perda de peso e o ganho de massa muscular. Além disso, as carnes e laticínios feitos a partir de plantas não colaboram para a resistência do organismo a antibióticos, uma crescente ameaça à saúde global associada ao consumo de alimentos de origem animal, visto que essas substâncias são comumente utilizadas na criação de aves, suínos, bovinos e peixes.
E um fato curioso apontado por um dos estudos incluídos na revisão é que 90% dos consumidores de carnes e laticínios feitos de plantas são, na verdade, comedores de carne animal ou adeptos do flexitarianismo, movimento que preza pela redução do consumo de carnes e laticínios de maneira mais flexível que o vegetarianismo ou o veganismo. Então podemos enxergar como esses produtos à base de plantas são capazes de facilitar mudanças na alimentação, reduzindo a demanda por produtos de origem animal ao apelarem para elementos fundamentais que os consumidores procuram ao consumir carnes e laticínios, como sabor, textura e experiência, além, é claro, da conveniência.
Mas é importante ressaltar que, aqui, os alimentos produzidos a partir de plantas estão sendo comparados àquilo que se propõem a substituir, no caso, produtos de origem animal, mostrando-se então mais saudáveis. O que não quer dizer, no entanto, que são, de maneira generalizada, a melhor e mais saudável opção para aqueles que desejam reduzir ou eliminar o consumo de carnes e laticínios. Isso porque muitos desses produtos produzidos a partir de plantas, especialmente as carnes, são considerados alimentos ultraprocessados, isto é, são formulações industriais fabricadas a partir de substâncias extraídas ou derivadas de outros alimentos (no caso, as plantas) e sintetizadas em laboratório (corantes, aromatizantes, conservantes e aditivos). Esse processamento é o que torna tais alimentos mais agradáveis ao paladar e similares aos produtos que se propõem a substituir, mas também é o que faz com que não sejam tão saudáveis quanto os alimentos in natura, podendo, dependendo da composição, aumentar o risco de certos problemas de saúde, como obesidade, colesterol e doenças cardiovasculares.
Então, é importante prestar atenção ao que você está comprando e entender como aquele produto foi fabricado e o que traz em sua composição. Mas a melhor opção para aqueles que desejam abandonar os produtos de origem animal de maneira realmente saudável é apostar nas preparações caseiras de alimentos vegetais in natura.
Por exemplo, as proteínas vegetais, como sementes, oleaginosas e leguminosas, incluindo feijões, ervilhas, lentilhas, grãos de bico, nozes e castanhas são alternativas às carnes que podem ser incluídas e combinadas em uma dieta equilibrada, variada e o mais natural possível. Para garantir todos os aminoácidos essenciais, a combinação de um cereal com um grão é o recomendado, por exemplo: feijão e arroz ou ervilha e milho. Já para substituir leite e derivados, uma excelente opção é preparar seu próprio leite em casa a partir de alimentos como aveia, arroz e amêndoas.
Dra. Marcella Garcez é Médica Nutróloga, Mestre em Ciências da Saúde pela Escola de Medicina da PUCPR, Diretora da Associação Brasileira de Nutrologia e Docente do Curso Nacional de Nutrologia da ABRAN. A médica é Membro da Câmara Técnica de Nutrologia do CRMPR, Coordenadora da Liga Acadêmica de Nutrologia do Paraná e Pesquisadora em Suplementos Alimentares no Serviço de Nutrologia do Hospital do Servidor Público de São Paulo. Além disso, é membro da Sociedade Brasileira de Medicina Estética e da Sociedade Brasileira para o Estudo do Envelhecimento. Instagram: @dra.marcellagarcez