A segurança alimentar é a condição em que as pessoas têm acesso físico, social e econômico permanente a alimentos seguros, nutritivos e em quantidade suficiente para suprir as necessidades nutricionais e preferências alimentares, possibilitando uma vida ativa e saudável. Além disso, ela também está relacionada às questões de raça e gênero, tendo em vista de que domicílios chefiados por mulheres ou por pessoas pretas e pardas são os que mais apresentam insegurança alimentar.
A pandemia de covid-19 afetou a alimentação do brasileiro de várias formas, com as medidas de isolamento social necessárias para a prevenção e contenção da propagação do vírus, resultando na instabilidade no trabalho e uma crise econômica instalada.
São várias as repercussões da pandemia na Segurança Alimentar e Nutricional, entre elas: redução/suspensão da renda de trabalhadores; prejuízos na oferta de alimentos in natura da agricultura familiar; paralisação do Programa Nacional de Alimentação Escolar; fábricas de processamento de alimentos fechadas devido a surtos entre trabalhadores; fechamento de restaurantes e feiras livres; limitação no transporte de alimentos; redução da cobertura do Bolsa Família; redução do consumo de alimentos in natura; aumento do consumo de alimentos ultraprocessados; ganho de peso e/ou transtornos alimentares associados à inatividade física e ao isolamento social; redução/ausência dos serviços de saúde; falta de acesso regular à água e saneamento; e aumento do preço dos alimentos.
Devido a todos esses fatores, a desigualdade social já existente no país ficou ainda mais evidente. A população com maior escolaridade e que vive em regiões mais favorecidas economicamente, passou a comer de forma mais saudável, devido ao privilégio de poder se manter em isolamento social e cozinhar em casa. Já a população com menor escolaridade, de regiões menos desenvolvidas economicamente, sofreu com redução da renda e aumentou o consumo de alimentos com menor valor nutricional. Houve alta do consumo de opções mais baratas e que podem saciar a fome com maior rapidez, como frituras, refrigerantes e outros alimentos pouco saudáveis. A adaptação ao “novo normal” acabou limitando a saúde de famílias mais vulneráveis e isso não foi bom, pois acarretou na falta do balanceamento de uma dieta saudável.
Uma alimentação saudável e rica em nutrientes é indispensável para o bom funcionamento do corpo; é importante manter um adequado consumo de verduras, legumes e frutas, cereais e leguminosas, carnes e ovos. Para que seja possível manter uma alimentação saudável dentro deste contexto de pandemia, alguns fatores devem ser observados, como: ser fiel à sua lista de compras; ir à feira no horário da xepa (nesse horário os alimentos estão mais baratos); verificar os prazos de validade; ir ao mercado nos dias de promoção; cozinhar mais, assim você controla a qualidade dos alimentos, além da quantidade de ingredientes adicionados; preferir receitas mais simples; e pesquisar os preços antes de ir às compras.
Ter conhecimento sobre a média dos preços é indispensável para que os consumidores evitem valores abusivos, que podem ser reflexo da entressafra de produtos; comportamento do dólar, que torna o produto brasileiro mais competitivo fora do país, incentivando as exportações; inflação mais alta, capaz de diminuir o poder de compra das famílias; e a injeção de dinheiro na economia para o pagamento do auxílio emergencial devido à pandemia do novo coronavírus.
À medida em que a vacinação avança, o retorno da normalidade com redução das medidas restritivas de circulação tende a revelar a ocorrência da estabilização dos preços.
Apesar da insegurança alimentar cada vez mais escancarada, vale ressaltar que neste momento de pandemia houve também o retorno à cozinha e um aumento muito grande na procura por deliverys, dois fatores que foram positivos.
O costume de se alimentar em casa junto da família havia se perdido, o contato com a cozinha retomou essa atitude diária. Percebe-se o prazer pela volta à cozinhar, incentivado por conhecimentos culinários e novas experimentações. O retorno da comensalidade, que é o ato de compartilhar uma refeição, foi importante para a Gastronomia.
As pessoas passaram a consumir de modo regular produtos dos mesmos estabelecimentos, ressaltando, assim, a fidelização das marcas, o que foi muito interessante, porque os preços subiram, mas houve aumento de compra por delivery e venda de supermercados, que até se adaptaram com sistemas de entrega e contrataram novos funcionários. Portanto, o mercado de food service se renovou e continua se reestruturando por conta da pandemia.
Por Ana Carolina de Oliveira e Camila Landi
*Ana Carolina de Oliveira é nutricionista da Clínica Escola de Nutrição, vinculada ao curso de Nutrição da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM).
*Camila Landi é coordenadora do curso de Tecnologia em Gastronomia da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM).