O Brasil é reconhecido mundialmente por conta da produção de alimentos. Não é à toa, que o país é apontado como o quarto maior produtor do planeta. Em contrapartida, figuramos na décima colocação entre os países que mais desperdiçam alimentos. De acordo com dados do IBGE, cerca de 30% do que é produzido no território nacional acaba não sendo aproveitado, algo em torno de 46 milhões de toneladas de alimentos por ano.
A cultura de desperdício de alimentos é um dos fatores que potencializam a fome no mundo e mais do que nunca precisa ser descontinuada. Ainda que a maior parte desse problema ocorra ao longo da cadeia produtiva, entre o plantio, colheita, manuseio, transporte, comércio e distribuição, estudos mais recentes apontam que o desperdício nas casas dos brasileiros já representam mais de 10% dessa parcela.
Diante desse cenário, é preciso que cresça cada vez mais a preocupação social com o desperdício e também o esgotamento dos recursos naturais, exigindo de todos, novos comportamentos e novas formas de pensar e agir na cozinha. Tendo em vista essa necessidade de transformação, praticar o chamado aproveitamento integral dos alimentos pode ser um grande e positivo ponto de partida, utilizando as partes não convencionais como a casca, talo, folha e semente.
Até porque, quando falamos em desperdício de alimentos precisamos excluir do nosso inconsciente a ideia de que estamos falando somente dos restos, que ficam no prato após já estarmos saciados. A concepção de desperdício precisa ir além, até para que esses elementos que acabam sendo descartados possam ser aproveitados.
Vale ressaltar que o aproveitamento integral dos alimentos pode ser diversificado, ou seja, não estamos falando necessariamente apenas de comer uma fruta com a casca ou um legume com o talo. Tais componentes, muitas vezes, podem compor uma torta, um bolo, um pão, uma sopa, contribuindo para que as refeições fiquem ainda mais ricas nutricionalmente, auxiliando para a construção de uma alimentação mais saudável.
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Vamos pegar o exemplo da cenoura. Normalmente, o consumo deste vegetal, seja para refogar, cozinhar ou ralar, passa pelo corte das folhas e pontas, além do descascar da parte externa. Porém, você já parou pra pensar que essas partes não precisam, ou melhor, não devem ser descartadas? As folhas podem integrar a salada, já as pontas podem integrar um caldo enquanto as cascas podem ser assadas ou fritas para a criação de snacks crocantes e saudáveis.
O caso da cenoura é bastante interessante e mostra como todas essas partes consideradas não convencionais podem ser aproveitadas de diversas formas. Esta é só uma entre tantas possibilidades que são descartadas em nosso dia a dia.
O aproveitamento integral de alimentos não impacta somente na queda do desperdício, mas também contribui de forma direta para tornar a alimentação mais saudável. Você sabia que uma enorme parcela dessas partes não convencionais são ricas em nutrientes? Pois é, possuem mais fibras e podem ser tão saborosas quanto as partes nobres. Não custa dizer que hoje em dia, graças ao auxílio da internet, as receitas com base nesses elementos estão cada vez mais populares.
Além de fazer bem para a saúde, ainda há de se destacar a economia financeira, já que as pessoas podem criar diversos pratos a partir de um único ingrediente. Mais do que isso, quem também agradece é o meio ambiente, tendo em vista que o melhor aproveitamento dos alimentos reduz o consumo e, consequentemente, o impacto ambiental da produção. Essas ações também geram menos lixo orgânico.
A verdade é que não podemos mais aceitar um cenário em que 800 milhões de pessoas sofram de fome, segundo relatório do Índice Global da Fome, enquanto paralelamente 1,3 bilhão de toneladas de alimentos são desperdiçadas anualmente, de acordo com dados da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO). Mais do que nunca, precisamos instaurar a cultura contra o desperdício de comida na sociedade e, sem dúvida, o consumo integral é um passo essencial nesse sentido. Até porque, o aproveitamento completo do alimento é bom para nosso bolso, nossa saúde e também ao planeta.
*Saulo Marti é CMO e cofundador da Diferente. O executivo busca usar o conhecimento em startups para criar algo que impacte de verdade a vida das pessoas. É formado em Administração pela FAE Centro Universitário de Curitiba (PR) e também pela Universidad Complutense de Madrid.