Páscoa é sinônimo de chocolate. E muitas pessoas acreditam que, por ser feito de cacau, o chocolate é, necessariamente, benéfico para a saúde. Mas não é bem assim. O cacau, por si só, é realmente benéfico, pois é rico em polifenóis, substâncias que possuem poderosa ação antioxidante e preventiva da formação de radicais e efeito protetor contra os danos ao DNA das células. Além disso, o ingrediente possui propriedade analgésica, vasodilatadora, antimicrobiana, anti-inflamatória, anticarcinogênica (previne o aparecimento de câncer) e antiaterogênica (previne o acúmulo de gordura na parede das artérias).
Mas o processamento das sementes de cacau para transformá-las em chocolate pode levar a perda variável dos compostos fenólicos e, consequentemente, dos efeitos benéficos do ingrediente. Além disso, o chocolate pode ter vários componentes além do cacau, como açúcar, gorduras e até oleaginosas, e a concentração de cada um desses ingredientes é que vai determinar seus efeitos na saúde. Então é importante prestar atenção ao rótulo na hora de escolher o chocolate para essa páscoa:
Chocolate Amargo
Para garantir a manutenção dos benefícios do cacau, o ideal é optar por chocolates com maior concentração de cacau e menor concentração de açúcar. Dê preferência para produtos com, no mínimo, 65% de cacau e que listam o cacau ou a massa de cacau como o primeiro item da lista de ingredientes no rótulo. Quanto maior a concentração de cacau, maior a quantidade de polifenóis e a atividade antioxidante do alimento. Por isso, vale apostar no chocolate amargo, que inclusive também é a melhor opção para crianças. Apesar de serem resistentes às versões mais amargas devido ao paladar infantil, devemos educar as crianças desde pequenas a evitarem o excesso de açúcar na alimentação. Mas lembre-se que o cacau é contraindicado para crianças menores de um ano de idade e o Ministério da Saúde não recomenda o consumo de açúcar para crianças menores de dois anos.
Chocolate ao leite
Ao contrário do chocolate amargo, o chocolate ao leite possui uma concentração bem maior de açúcar. Então, se consumido indiscriminadamente, pode favorecer o surgimento de condições como diabetes e aterosclerose. Para que mantenha os benefícios do cacau, o chocolate ao leite deve ter, no mínimo, 35% do ingrediente, assim possuindo metade da capacidade antioxidante do chocolate amargo. O problema é que, segundo a Anvisa, um produto precisa conter apenas 25% de cacau para ser considerado chocolate, concentração abaixo da necessária para realmente conferir benefícios à saúde. Já o leite aparece em quantidades insuficientes na composição para substituir alimentos lácteos e oferecer benefícios ou malefícios à saúde. Ainda assim, esse tipo de chocolate não é recomendado para aqueles que possuem intolerância ou alergia aos componentes do leite.
Chocolate Rubi (rosa)
O chocolate rosa é uma alternativa interessante ao chocolate ao leite. Feito a partir da semente do cacau rubi, o chocolate rosa recebe esse nome devido a sua coloração rosada natural, sem corantes artificiais. Além disso, tem um sabor diferenciado: é mais cremoso, frutado e adocicado, com um leve toque cítrico. E, por ser feito a partir do cacau rubi, possui mais polifenóis que o chocolate convencional, pois os flavonoides presentes no ingrediente são mantidos até o produto final devido ao processo de fermentação especial pelo qual as sementes passam para que não percam o sabor e a coloração natural. Dessa forma, é uma boa opção para quem quer manter a saúde na páscoa, desde que não seja rico em açúcar e gorduras. Porém, tende a ser bem mais caro do que o chocolate amargo.
Chocolate branco
O chocolate branco deve ser evitado, pois, por ser fabricado a partir da manteiga de cacau, é composto basicamente de gordura, açúcar, leite e aromatizantes. Então, não possui as funcionalidades provenientes do cacau e, se consumido em excesso, pode trazer danos à saúde. Mas quem não abre mão do chocolate branco e quer minimizar seus malefícios a saúde pode optar pelas versões sem açúcar. Mas que ainda são ricas em gordura e podem até mesmo trazer uma concentração maior de lipídios para suprir a falta do açúcar. Devemos evitar também os chocolates recheados e que trazem ingredientes que agregam ainda mais açúcar ao produto, como doce de leite e brigadeiro.
Chocolate com oleaginosas
O chocolate amargo com oleaginosas é uma ótima escolha para quem procura uma opção saudável com benefícios adicionais. Apesar de calóricos, ingredientes como castanhas, nozes, avelãs e amendoins adicionam nutrientes à guloseima, como o ômega-3, que ajuda no controle do colesterol. Além de possuir propriedades anti-inflamatórias, melhorar a circulação e o desempenho cognitivo.
Mas lembre-se que devemos consumir mesmo o chocolate amargo com moderação, pois, independentemente da concentração de cacau, ainda tem açúcar e gorduras saturadas. Existem, claro, opções sem açúcar, adoçadas com edulcorantes, que são indicadas para pessoas com diabetes ou em dieta de emagrecimento. Porém, o consumo também não deve ser indiscriminado, já que ainda contém calorias e gorduras.
O mais importante, no final das contas, é ter disciplina e controlar o consumo diário. O ideal é consumir de 25g a 50g de chocolate por dia. Nesse sentido, priorizando às opções com maior concentração de cacau, como o chocolate amargo e o chocolate rosa. Assim, é possível consumir a guloseima sem culpa e sem a necessidade de adotar estratégias para diminuir o índice glicêmico do alimento, por exemplo. No geral, o chocolate possui baixo índice glicêmico. Se composto por mais de 65% de cacau, também é um alimento funcional, possuindo índice glicêmico ainda mais baixo.
*Dra Marcella Garcez: Médica Nutróloga, Mestre em Ciências da Saúde pela Escola de Medicina da PUCPR, Diretora da Associação Brasileira de Nutrologia e Docente do Curso Nacional de Nutrologia da ABRAN. A médica é Membro da Câmara Técnica de Nutrologia do CRMPR, Coordenadora da Liga Acadêmica de Nutrologia do Paraná e Pesquisadora em Suplementos Alimentares no Serviço de Nutrologia do Hospital do Servidor Público de São Paulo. Além disso, é membro da Sociedade Brasileira de Medicina Estética e da Sociedade Brasileira para o Estudo do Envelhecimento. Instagram: @dra.marcellagarcez