Boom dos Inibidores de Apetite: Indústria Alimentícia Repensa Ultraprocessados
A diabetes e a obesidade se tornaram os ingredientes principais que impulsionam a expansão do setor farmacêutico. Assim, deixando para trás produtos mais tradicionais, das áreas da oncologia e imunologia. Isso é o que aponta o relatório The weight is over: How GLP-1 treatments are reshaping pharma and beyond. O time de economistas da Allianz Research, departamento de análise da Allianz Trade, líder mundial em seguro de crédito, divulgou o relatório.
Especialistas utilizam os medicamentos GLP-1 para tratar diabetes tipo 2 e obesidade. Assim, eles tiveram crescimento de 4,5 bilhões de euros em 2021 para 21,2 bilhões em 2023. As vendas destes medicamentos cresceram 92% este ano, com previsão de atingir 92 bilhões de euros até 2030.

O que pode dar errado?

Os economistas veem os medicamentos GLP-1 como ambíguos. Porém, acreditam que seu impacto marca um novo capítulo para a endocrinologia e nutrição, abrindo caminho para avanços futuros. No entanto, alguns pacientes relataram náusea, diarreia, distúrbios estomacais, perda muscular e dúvidas sobre efeitos colaterais a longo prazo. Além disso, o exame regulatório sobre a segurança e eficácia dos medicamentos, além de resultados negativos de testes, pode ter consequências fatais.
O relatório aponta que outro grande desafio é a intensificação da concorrência de medicamentos novos, genéricos e “imitadores”. O setor está investindo e explorando mais do que nunca nas áreas de obesidade, diabetes e doenças metabólicas, portanto, é muito provável que novos tratamentos semelhantes e até melhores do que os utilizados atualmente cheguem ao mercado nos próximos anos.
Os medicamentos genéricos devem começar a comercialização na China já em 2026. Embora as patentes concedam poder de fixação de preços durante um período e proteção substancial de participação de mercado ao detentor (que tem direitos exclusivos sobre os ingredientes ativos, as fórmulas e os processos de fabricação), mais cedo ou mais tarde, elas expirarão. De qualquer forma, o relatório relembra que as versões genéricas dos medicamentos também precisam da aprovação. Primeiramente, pelas autoridades regulatórias locais: uma vez garantida essa aprovação, as versões genéricas do composto podem roubar cerca de 50% a 70% da participação no mercado no primeiro ano de comercialização.

Impacto na indústria de alimentos

O relatório da Allianz Trade indica que, como os medicamentos para perda de peso suprimem o apetite, eles podem ter consequências de longo alcance para a indústria alimentícia, especialmente nos EUA. Uma pesquisa recente publicada pela KFF mostrou que 6% dos adultos dos EUA estavam tomando medicamentos GLP-1 em 2024, enquanto dados de prescrição e vendas sugerem que havia 500.000 usuários em 2023. A estimativa é de que até 15 milhões de adultos dos EUA possam estar usando GLP-1 para perda de peso até 2030.
Essa tendência está levando as empresas alimentícias a reavaliarem seus portfólios, por enfrentarem potenciais declínios na demanda de determinados produtos. Afinal, o boom do GLP-1 pode cortar o mercado de alimentos dos EUA em US$ 40 bilhões na próxima década, reduzindo a demanda por lanches e alimentos processados e de alto teor calórico. Essa redução acompanha a diminuição média de 20-30% na ingestão geral de calorias pela qual passam os pacientes que utilizam medicamentos GLP-1.
O mercado de alimentos nos EUA é estimado em cerca de US$ 800 bilhões e segmentos como confeitaria e salgadinhos, que somam cerca de US$ 130 bilhões nos EUA, podem estar em apuros. Até 2035, o mercado de alimentos deve sofrer uma queda de -5% no mercado de alimentos, ou cerca de US$ 40 bilhões até 2035.

Obesidade gera mais gastos com saúde

A obesidade se tornou um problema de saúde generalizado no século atual. Não só a população global está crescendo acentuadamente (8,5 bilhões de pessoas até 2030), mas também a proporção de pessoas obesas. Em 2022, 16% da população adulta global foi considerada obesa pela Organização Mundial da Saúde (OMS), acima dos 7% em 1990. Esse aumento foi impulsionado por vários fatores, como dietas pouco saudáveis e estilos de vida sedentários, bem como o acesso a alimentos saudáveis e, portanto, disparidades econômicas. No total, 884 milhões de adultos (504 milhões de mulheres e 380 milhões de homens) são atualmente considerados obesos (contra 230 milhões em 1990).
Enquanto isso, as mudanças climáticas podem piorar essa tendência: temperaturas externas mais altas tendem a impedir atividades físicas ao ar livre em países tropicais. Ao mesmo tempo, a distribuição desigual de riqueza significa que nem todos têm o mesmo acesso a uma dieta equilibrada e de qualidade a preços acessíveis. Mais preocupante ainda, os problemas de sobrepeso e obesidade estão começando cada vez mais cedo. Entre 1990 e 2022, a prevalência da obesidade na faixa etária de cinco a 19 anos quadruplicou de 2% para 8%. Essas taxas crescentes de obesidade entre crianças, juntamente com uma sociedade adulta cada vez mais sedentária, preparam o cenário para que as taxas de obesidade continuem a aumentar no futuro previsível.
A obesidade contribui para vários riscos graves à saúde, como diabetes, doenças cardíacas, falta de mobilidade e certos tipos de câncer, que aumentam os custos com saúde e sobrecarregam os recursos médicos. Estima-se que a obesidade seja responsável por até 80% do aumento nos casos de diabetes. Além disso, os riscos de sofrer de doença cardíaca coronária, derrames, certas formas de câncer e osteoartrite também são significativamente maiores para pessoas obesas. Para piorar a situação, pacientes obesos têm mais complicações de tratamentos médicos do que seus pares de peso normal. Assim, a obesidade resulta em maiores gastos com saúde, mas também em custos indiretos devido a perdas na produtividade econômica (se aposentando mais cedo, por exemplo).
Por isso, tratamentos da obesidade poderiam levar a uma economia de até 3,3 trilhões de euros nos próximos 10 anos. Hoje em dia, os problemas de saúde relacionados à obesidade custam 698 bilhões de euros diretos por ano, ou ainda 7,7% dos gastos globais com saúde, de acordo com os economistas da Allianz Trade.

 

Fonte: assessoria de imprensa