O estado nutricional influencia a imunidade, mas a associação específica entre quais alimentos pioram ou evitam graus severos da doença ainda é uma conexão difícil. Apesar disso, um estudo recente da Northwestern University (Chicago – EUA), publicado em junho no periódico Nutrients, constata que alimentos como café e vegetais podem ajudar a evitar casos graves de Covid-19. Além disso, o estudo apontou que carnes processadas estão relacionadas ao desenvolvimento de maior severidade da doença.
“O sistema imunológico desempenha um papel fundamental na suscetibilidade de um indivíduo e na resposta a doenças infecciosas, incluindo Covid-19. Um dos principais fatores modificáveis que afetam a função imunológica é o comportamento alimentar que influencia o estado nutricional.
Estudos ecológicos do Covid-19 relatam correlações favoráveis com vegetais e padrões alimentares específicos, como a dieta mediterrânea. Alguns suplementos dietéticos foram encontrados para ter uma associação com a infecção SARS-CoV-2. No entanto, os pesquisadores deste estudo recente usaram dados da Inglaterra, do UK Biobank, e relataram que o consumo de café e vegetais foi associado favoravelmente ao desenvolvimento de quadros leves da doença, após a infecção pelo vírus”, explica a Dra. Marcella Garcez, médica nutróloga, diretora e professora da Associação Brasileira de Nutrologia.
O estudo analisou dados de 37.988 pessoas entre 40 e 70 anos de idade no início do estudo, das quais 17% testaram positivo para Covid-19.
Embora o fator nutricional possa teoricamente impactar a suscetibilidade à Covid-19, poucas investigações testaram especificamente a hipótese. O baixo nível de vitamina D está associado à infecção, gravidade e mortalidade pela doença, segundo estudos; além do alto consumo de álcool e menor consumo de café e chá.
Na investigação pela base de dados britânica, os pesquisadores concluíram que o consumo habitual de 1 ou mais xícaras de café por dia teve relação com uma redução de cerca de 10% no risco de Covid-19 em comparação com menos de 1 xícara/dia. “O café não é apenas uma fonte importante de cafeína, mas contribui com dezenas de outros constituintes; incluindo muitos implicados na imunidade.
Entre muitas populações, o café é o principal contribuinte para a ingestão total de polifenóis, em particular os ácidos fenólicos. Café, cafeína e polifenóis têm propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias, de forma que o consumo de café se correlaciona favoravelmente com biomarcadores inflamatórios, como PCR, interleucina-6 (IL-6) e fator de necrose tumoral α (TNF-α), que são também associados à gravidade e mortalidade de Covid-19. O consumo de café também foi associado a um menor risco de pneumonia em idosos”, explica a médica.
No caso das frutas e vegetais, explica a Dra. Marcella, elas são fontes dietéticas ricas em vitaminas, folato, fibra e vários fitoquímicos, como carotenóides e flavonóides. “Essas substâncias têm propriedades anti-inflamatórias, antibacterianas e antivirais e, portanto, são imunoprotetoras. O estudo atual associou o consumo de pelo menos 0,67 porções por dia de vegetais (cozidos ou crus, excluindo batatas) a um menor risco de infecção por Covid-19.
Estudos ecológicos recentes do Covid-19 relatam que países com alto consumo de alimentos com atividade antioxidante potente ou antienzima conversora de angiotensina (ACE), como repolho cru ou fermentado, têm uma taxa de mortalidade por Covid-19 mais baixa em comparação com outros países”, explica. Segundo os pesquisadores, estudos de vegetais e alimentos fermentados relataram que cada aumento de grama por dia no consumo médio nacional de repolho, pepino ou vegetais fermentados diminuiu o risco de mortalidade para Covid-19 em 11 a 35%.
O Estudo associou o consumo de carne processada de apenas 0,43 porções/dia a um maior risco de Covid-19 no UK Biobank. No entanto, o consumo de carne vermelha não apresentou risco, sugerindo que a carne não processada não está relacionada a casos graves. “Carne processada refere-se a qualquer carne que foi transformada por meio de salga, cura, fermentação, defumação ou outro processo para realçar o sabor ou melhorar a preservação”, explica a médica nutróloga. Salsichas, bacon e presunto são os principais contribuintes para a ingestão de carne processada e geralmente contêm sal enriquecido com nitratos e/ou nitritos. Conservantes e outros aditivos estão sendo usados cada vez mais, embora sejam difíceis de medir em estudos observacionais.
“Carnes processadas também são características de uma dieta de estilo ocidental, o que pode afetar adversamente a imunidade”, explica a médica. “Apesar da limitação do estudo, como não ter dados simultâneos de pandemia sobre outros fatores de risco estabelecidos (distanciamento e uso de máscaras), esse é um trabalho importante para pensarmos em incluir vegetais e café na dieta, e principalmente limitar o consumo de carnes processadas, com o objetivo de melhorar a imunidade”, finaliza a Dra. Marcella.
Fonte: assessoria de imprensa