Amamos pavês, bolos, doces, tortas e todo o exagero de Natal, afinal, a ceia feita em família é um momento gostoso. Mas é necessário ter cuidado para não esticar a comilança. Isso porque antes mesmo de experimentar o peso a mais de alguns abusos na alimentação, podemos literalmente sentir na pele as consequências, segundo um estudo, publicado em 2020 no Journal of Investigative Dermatology. “Os pesquisadores da UC Davis Health demonstraram que, mesmo uma exposição a curto prazo à dieta ocidental rica em gordura e açúcar pode levar a doenças inflamatórias da pele, como a psoríase”, explica a Dra. Marcella Garcez, médica nutróloga e professora da Associação Brasileira de Nutrologia.
“Segundo o estudo, as doenças inflamatórias da pele podem aparecer antes mesmo de experimentarmos os quilinhos a mais dos excessos”, acrescenta a médica. Embora o estudo tenha relacionado a casos de psoríase, há evidências de que a dieta rica em gorduras ruins (como frituras) e açúcar pode causar acne e envelhecimento da pele. “O açúcar pode se ligar às fibras de colágeno e elastina em um processo conhecido como glicação, endurecendo-as e tornando a pele flácida e envelhecida. Por sua vez, junk foods, frituras e comidas processadas, que, por serem ricas em sódio e gorduras saturadas, podem desidratar a pele, enfraquecer o colágeno, causar inflamação e estimular a produção de oleosidade”, alerta a Dra. Roberta Padovan, médica pós-graduada em Dermatologia e Medicina Estética.
De acordo com o geneticista Dr. Marcelo Sady, Pós-Doutor em Genética e diretor geral Multigene, existe um gene chamado TNF-alfa e ele está associado ao processo inflamatório. “Se o indivíduo tem um alelo (forma alternativa de um determinado gene) que leva a um processo inflamatório mais intenso, você vai usar alguns ativos orais em uma determinada concentração para frear e adequar a expressão desse gene. Além disso, você deve tomar cuidado com a alimentação, pois existem alimentos que são pró-inflamatórios e o consumo exagerado pode piorar a inflamação da acne e também o envelhecimento da pele”, afirma o especialista.
O estudo “Short-term exposure to a Western diet induces psoriasiform dermatitis by promoting accumulation of IL-17A-producing γδ Tcells” sugere que os componentes da dieta podem levar à inflamação da pele e ao desenvolvimento de psoríase. De acordo com a Dra. Paola Pomerantzeff, a psoríase é uma inflamação causada por uma agressão dos anticorpos aos queratinócitos, células responsáveis por formar a barreira protetora do tecido. “Como resultado, há uma proliferação exacerbada dos queratinócitos, com consequente formação de crostas”, explica a médica. “Dessa forma, a psoríase é categorizada como uma doença autoimune, sendo causada então principalmente devido à predisposição genética. Porém, outros gatilhos também podem agravar a doença, como fatores ambientais, alimentação e o estresse.”
Estudos anteriores mostraram que a obesidade é um fator de risco para o desenvolvimento ou agravamento da psoríase. A dieta ocidental, caracterizada por uma alta ingestão de gorduras saturadas e sacarose e baixa ingestão de fibras, tem sido associada ao aumento da prevalência de obesidade no mundo. Para o estudo da UC Davis Health, que utilizou um modelo de camundongo, os pesquisadores descobriram que era necessária uma dieta contendo alto teor de gordura e alto teor de açúcar (imitando a dieta ocidental em humanos) para induzir a inflamação da pele. Em apenas quatro semanas, os ratos com dieta ocidental aumentaram significativamente o inchaço dos ouvidos e a dermatite visível em comparação com os ratos alimentados com dieta controlada e com dieta rica em gordura. “A dieta não saudável não afeta apenas a sua cintura, mas também a imunidade da pele”, diz a Dra. Marcella Garcez.
O estudo detalhou os mecanismos pelos quais a inflamação ocorre após uma dieta ocidental. “O trabalho identificou que a alimentação rica em gordura e açúcares é capaz de despertar a sinalização inflamatória na pele, desregulando a via Interleucina-23, um mensageiro pró-inflamatório que contribui para o desenvolvimento de dermatites”, afirma a nutróloga.
O estudo também enfatiza a importância da dieta para pacientes com doenças de pele. Pacientes com psoríase, por exemplo, com má alimentação têm maior risco de desenvolver doenças relacionadas, incluindo diabetes, hipertensão e doenças cardiovasculares, que podem ser evitadas ou melhoradas por abordagens dietéticas.
Um exame de genotipagem também pode ajudar no tratamento da psoríase. “Prevenir a psoríase também pode ajudar na prevenção contra o câncer. Segundo um estudo recente, publicado em outubro de 2019, no conceituado JAMA Dermatology, portadores de psoríase apresentam risco aumentado de diversos tipos de câncer, principalmente portadores de psoríase severa, cujo risco de câncer de células escamosas (um dos tipos de câncer de pele), pode ser até aproximadamente 12 x maior”, afirma o geneticista. A Multigene já trabalha com o perfil de genotipagem para prevenção e tratamento de psoríase, que não só identifica a presença dessas variantes genéticas responsáveis por maior incidência da doença, como também ajuda a orientar o paciente a como controlar a ação negativa das variantes mais importantes.
Em uma revisão sistemática da literatura, o aumento da gravidade da psoríase pareceu correlacionar-se com um maior índice de massa corporal (IMC), e acredita-se que a obesidade provavelmente predisponha à psoríase e vice-versa. Embora as recomendações dietéticas específicas não sejam claras, um estudo observacional encontrou uma associação benéfica de melhora com pacientes que seguiram a dieta mediterrânea. Em termos de suplementos nutricionais, vários estudos apostam no óleo de peixe como o mais promissor e a vitamina D oral demonstrando alguma promessa em estudos abertos.
“De qualquer forma, uma boa alimentação, equilibrada e com boa ingestão de fibras, sem excessos em açúcar e gordura de má qualidade, é capaz de trazer diversos benefícios para a pele e evitar muitas doenças. Por isso, procure ajuda de um médico nutrólogo para ajustar os desequilíbrios da sua dieta”, finaliza a Dra. Marcella.
Fonte: assessoria de imprensa