As emoções podem ter um impacto importante na saúde. E até influenciar a alimentação, nos levando, por exemplo, a comer mais ou menos calorias, escolher entre alimentos saudáveis ou hiperpalatáveis e industrializados e até ingerir uma alta quantidade de alimentos em pouco tempo. Mas é importante reconhecer como as emoções afetam os hábitos alimentares e buscar maneiras saudáveis de lidar com a situação, pois descarregar as emoções em alimentos pode tornar o padrão alimentar mais pobre, com baixa oferta de nutrientes, e alto consumo de alimentos ricos em açúcar simples e gordura. Além disso, os alimentos também podem potencializar as emoções. E cada uma das emoções pode afetar o comportamento alimentar de maneira diferente:
Alegria
Quando estamos felizes, ficamos mais motivados a fazer escolhas alimentares saudáveis e a seguir hábitos alimentares equilibrados. Mas a alegria também pode aumentar o consumo de alimentos em situações de celebração, como festas, quando tendemos a consumir alimentos mais calóricos e menos saudáveis. Mas, também, diversos alimentos podem afetar o humor e o bem-estar devido à composição nutricional e aos seus efeitos no cérebro e no corpo. É o caso dos alimentos ricos em triptofano, como peru, frango, ovos, queijo e sementes, pois esse aminoácido é um precursor da serotonina, um neurotransmissor que desempenha um papel crucial nesse tipo de sentimento. Assim, pode ajudar na regulação de humor e na sensação de bem-estar.
Tristeza
A tristeza influencia o comportamento alimentar, geralmente gerando padrões comuns como comer emocional, alterações no apetite e padrões alimentares irregulares. Mas o comportamento alimentar também pode influenciar a tristeza, pois uma dieta pobre em nutrientes pode afetar negativamente o estado mental. Além disso, restrições dietéticas severas ou dietas desequilibradas podem causar estresse adicional, exacerbando sentimentos de tristeza. E alimentos “conforto” para pessoas tristes podem proporcionar uma sensação momentânea de prazer ou alívio emocional, mas não necessariamente são opções seguras para enfrentar os momentos tristes, pois costumam ser ricos em gordura, calorias e, principalmente, açúcar. E o consumo excessivo pode levar a flutuações nos níveis de açúcar no sangue, afetando negativamente o humor e a energia. Nessas situações, o ideal seria considerar alimentos fermentados, ricos em triptofano ou ômega-3.
Raiva
Em momentos de raiva intensa, algumas pessoas recorrem à comida como uma forma de conforto ou distração, o que pode levar a escolhas impulsivas, com consumo de alimentos ricos em calorias, açúcar ou gordura, que proporcionam sensação temporária de prazer. A raiva também pode afetar o apetite, resultando em aumento ou diminuição na ingestão de alimentos, dependendo da resposta individual ao estresse. Emoções intensas ainda podem afetar a função digestiva e causar desconforto abdominal, indigestão ou outras alterações gastrointestinais que podem influenciar o comportamento alimentar.
Por outro lado, não se alimentar adequadamente pode levar à irritabilidade, pois manter níveis estáveis de glicose no sangue através de uma dieta equilibrada ajuda a regular o humor. Para pacientes mais explosivos, é recomendado evitar certas substâncias que podem aumentar a excitabilidade ou nervosismo, como cafeína e açúcares refinados, e incluir na dieta aqueles com propriedades calmantes, incluindo maracujá, chá de camomila e folhas verde-escuras.
Nojo
Pessoas com aversão alimentar devido a aspectos sensoriais, emocionais ou psicológicos podem evitar certos alimentos, mesmo que sejam nutritivos, devido à sensação de repulsa ou desconforto que causam. Um exemplo é a seletividade alimentar, tendência de uma pessoa a preferir certos alimentos enquanto evita outros, muitas vezes limitando significativamente a variedade e a quantidade de alimentos consumidos. Isso pode desempenhar um papel importante para um comportamento alimentar restritivo. Nesses casos, encontrar substituições de alimentos que sejam mais aceitáveis pode permitir uma maior diversidade na dieta sem comprometer o conforto emocional. Em casos de seletividade alimentar significativa que afetam a qualidade de vida ou a nutrição adequada, pode ser benéfico considerar a orientação de um médico nutrólogo, nutricionista, psicólogo e/ou terapeuta.
Medo
Em situações de medo, seja de ganhar peso, de desenvolver uma doença relacionada à alimentação, ou de experimentar sintomas físicos adversos, algumas pessoas podem adotar dietas muito restritivas, com eliminação de grupos alimentares inteiros ou com redução excessiva na quantidade de comida consumida. Por outro lado, o medo pode desencadear episódios de compulsão alimentar, especialmente em pessoas que utilizam a comida para lidar com o estresse emocional. Vale lembrar que o medo de ganhar peso é frequentemente um componente central nos transtornos alimentares, como bulimia nervosa e anorexia nervosa. Para evitar as consequências, é importante buscar ajuda de um psiquiatra e um psicólogo. O papel do médico nutrólogo e nutricionista é de educação nutricional para evitar as carências.
Ansiedade
Essa é uma das emoções que mais influencia o comportamento alimentar, podendo desencadear episódios de compulsão, quando a comida é usada como uma forma de conforto ou distração para tentar aliviar temporariamente os sintomas. Por outro lado, a ansiedade também pode levar à restrição severa na ingestão de alimentos, especialmente em situações sociais ou quando há preocupações com o peso e a imagem corporal. Mas alguns alimentos também podem aumentar os níveis de ansiedade, como aqueles que são fontes de cafeína, incluindo café, chá e chocolate. Alimentos que contam com glutamato monossódico, como salgadinhos e molhos, também podem desencadear sintomas. Mas a resposta aos alimentos pode variar significativamente entre indivíduos, então nem todas as pessoas experimentarão aumento da ansiedade com os mesmos alimentos. Em contrapartida, chás de ervas, alimentos fermentados e ricos em triptofano e magnésio têm efeitos ansiolíticos.
Inveja
Essa emoção tem algumas relações indiretas com o comportamento alimentar, especialmente quando consideramos aspectos psicológicos e emocionais, pois pode levar à comparação com os outros, principalmente em relação a aparência física. Isso pode resultar em sentimentos de insatisfação pessoal e pressão para modificar a alimentação para alcançar um ideal percebido de beleza ou saúde. Em alguns casos, a inveja pode levar a um desejo aumentado por alimentos indulgentes ou luxuosos como uma forma de compensação emocional ou para tentar alcançar um nível de satisfação percebido por outros. Sentimentos de inveja também podem afetar negativamente a autoestima e o bem-estar emocional, o que por sua vez pode influenciar a maneira como uma pessoa se alimenta e cuida de si mesma.
Tédio
O tédio pode desencadear comportamentos alimentares emocionais, onde a comida é usada como uma distração para preencher o vazio emocional causado pelo tédio. Isso pode incluir comer em excesso ou escolher alimentos reconfortantes para aliviar o tédio temporariamente. O tédio também pode levar a padrões irregulares de alimentação, como pular refeições ou comer sem atenção. Assim, pode afetar negativamente a regulação do apetite e a escolha de alimentos saudáveis ao longo do dia. Além disso, quando uma pessoa está entediada com sua dieta, pode optar repetidamente pelos mesmos alimentos ou refeições. Nesse sentido, pode levar à monotonia alimentar, com consequente diminuição da satisfação geral com a alimentação. Assim, tornando-a uma tarefa monótona e sem graça, em vez de uma experiência agradável e nutritiva.
Vergonha
Sentimentos de vergonha relacionados à imagem corporal ou à alimentação podem levar o paciente a evitar certos alimentos, refeições sociais ou situações que envolvam comida. Nesse sentido, pode interferir na qualidade de vida e na saúde nutricional. Afinal, a vergonha também pode contribuir para uma percepção distorcida do corpo. Assim, levando a uma imagem negativa de si mesmo e à adoção de comportamentos alimentares que não são saudáveis.
*DRA. MARCELLA GARCEZ: Médica Nutróloga, Mestre em Ciências da Saúde pela Escola de Medicina da PUCPR, Diretora da Associação Brasileira de Nutrologia e Docente do Curso Nacional de Nutrologia da ABRAN. A médica é Membro da Câmara Técnica de Nutrologia do CRMPR, Coordenadora da Liga Acadêmica de Nutrologia do Paraná. Além de Pesquisadora em Suplementos Alimentares no Serviço de Nutrologia do Hospital do Servidor Público de São Paulo. Além disso, é membro da Sociedade Brasileira de Medicina Estética e da Sociedade Brasileira para o Estudo do Envelhecimento. Instagram: @dra.marcellagarcez