Uma dieta contendo muito sal pode contribuir para o aumento dos níveis de estresse, mostra um novo estudo publicado em novembro na Cardiovascular Research. Os cientistas descobriram em estudos com camundongos que uma dieta rica em sal aumentou os níveis de um hormônio do estresse em 75%.
“Mais estudos são necessários, mas sabemos que o sal em excesso tem sim muitos malefícios. O sal é a maior causa de hipertensão arterial (pressão alta). Além de causar retenção de líquidos, o sal causa constrição (estreitamento) das arteríolas, com consequente elevação da pressão arterial. A hipertensão de longa data lesa os rins e seus diversos vasos, ou seja, ocorrem lesões de órgãos-alvo, como acontece no coração e no cérebro. Dados recentes mostram que o sódio (sal) também modula o funcionamento de células imunológicas, apoiando a teoria do aumento inflamatório no organismo”, explica a Dra. Caroline Reigada, médica nefrologista, especialista em Medicina Interna pela Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo e em Nefrologia pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. “Todas essas descobertas precisam encorajar uma revisão da política de saúde pública em torno do consumo de sal, com o objetivo de que os fabricantes reduzam a quantidade de sal nos alimentos processados”, acrescenta.
Segundo a médica nutróloga Dra. Marcella Garcez, diretora e professora da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN), a Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda que o consumo de sal não ultrapasse 5 gramas por dia — ou 2 gramas de sódio, mineral que compõe o sal. “Só que o brasileiro ingere quase o dobro disso: em média 9,34 gramas, segundo a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). O consumo excessivo é um perigo para a saúde, pois o sal está relacionado ao aumento do risco de doenças crônicas e silenciosas, como hipertensão arterial, doenças cardiovasculares, doenças renais, entre outras, que podem evoluir com risco aumentado de morte precoce”, explica a Dra. Marcella Garcez. “Embora os efeitos no coração e no sistema circulatório tenham sido bem estabelecidos, pouco se sabia sobre o impacto de uma dieta rica em sal no comportamento de uma pessoa. No estudo, os pesquisadores descobriram que não apenas os níveis de hormônio do estresse em repouso aumentaram, mas a resposta hormonal dos camundongos ao estresse ambiental foi o dobro da dos ratos que tiveram uma dieta normal”, diz a Dra. Caroline.
No estudo, especialistas da Universidade de Edimburgo usaram camundongos, que normalmente têm uma dieta com baixo teor de sal, e deram a eles alimentos com alto teor de sal para refletir a ingestão típica de humanos. A ingestão de sal aumentou a atividade dos genes que produzem as proteínas no cérebro que controlam como o corpo responde ao estresse. “É necessário entender se uma ingestão elevada de sal leva a outras mudanças comportamentais, como ansiedade e agressividade”, diz a Dra. Caroline. “Somos o que comemos e entender como alimentos com alto teor de sal alteram nossa saúde mental é um passo importante para melhorar o bem-estar. Sabemos que comer demais o sal danifica nosso coração, vasos sanguíneos e rins. Este estudo agora nos diz que o alto teor de sal em nossa comida também muda a maneira como nosso cérebro lida com o estresse”, destaca a médica.
A Dra. Marcella Garcez enfatiza que, a longo prazo, além dos riscos individuais, o consumo exagerado de sal é um problema de saúde pública no Brasil e no mundo. “Isso representa muito custo para o sistema público de saúde e para sociedade, porque pessoas morrem prematuramente, as pessoas adoecem, deixam de trabalhar e produzir”, conta a médica nutróloga. “Assim como a redução do açúcar adicionado, a diminuição no consumo de sal é considerada uma das intervenções de melhor custo benefício contra as doenças crônicas não transmissíveis no mundo”, completa a Dra. Marcella.
Para reduzir a ingestão de sal, as médicas argumentam que, além de diminuir o sal extra adicionado após as preparações, o ideal é, na medida do possível, preparar as próprias refeições, uma vez que dessa forma dá para diminuir a quantidade de sódio. “Nunca conseguiremos ter controle da quantidade de sal adicionado em uma refeição comprada em restaurante, fast-foods e delivery. Em casa, na preparação, uma dica é preferir temperos naturais para dar sabor à comida, como: alho, cebola, salsinha, cebolinha, coentro, limão ou outros de sua preferência. Devemos evitar também todos os alimentos que são altamente processados e ricos em sódio, como embutidos, temperos e molhos prontos, enlatados, conservas, queijos amarelos, sopas de pacote e macarrão instantâneo, carnes salgadas, salgadinhos para aperitivos, bolachas salgadas ou doces recheadas, margarina ou manteiga com sal, requeijão normal ou light, maionese pronta, patês, produtos com glutamato monossódico, como molho de tomate pronto, salgadinhos, sardinha em lata, farofa e temperos prontos”, conta a médica Dra. Caroline.
“Assim como devemos adequar o paladar doce para reduzir os excessos de açúcar, o acréscimo de especiarias e temperos proporcionará sabor, sem excessos de sal. Temos ciência de que estratégias de redução de sal no nível social reduzirão os níveis médios de pressão arterial da população, resultando em menos pessoas desenvolvendo hipertensão e suas consequências, lembrando que a pressão alta é a primeira principal causa de insuficiência renal”, finaliza a médica.
Fontes: *Dra. Carolina Reigada: Médica nefrologista, especialista em Medicina Interna pela Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo e em Nefrologia pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. A médica é especialista em Medicina Intensiva pela Associação de Medicina Intensiva Brasileira. Formada pela Faculdade de Medicina da Universidade de Santo Amaro, a Dra. Caroline Reigada participa periodicamente de cursos e congressos, além de ter publicado uma série de trabalhos científicos premiados. Participou do curso “The Brigham Renal Board Review Course” em Harvard. Atualmente é médica do Hospital Alemão Oswaldo Cruz. Instagram: @dracaroline.reigada.nefro
*Dra. Marcella Garcez: Médica Nutróloga, Mestre em Ciências da Saúde pela Escola de Medicina da PUCPR, Diretora da Associação Brasileira de Nutrologia e Docente do Curso Nacional de Nutrologia da ABRAN. A médica é Membro da Câmara Técnica de Nutrologia do CRMPR, Coordenadora da Liga Acadêmica de Nutrologia do Paraná e Pesquisadora em Suplementos Alimentares no Serviço de Nutrologia do Hospital do Servidor Público de São Paulo. Além disso, é membro da Sociedade Brasileira de Medicina Estética e da Sociedade Brasileira para o Estudo do Envelhecimento. Instagram: @dra.marcellagarcez