Você cuida bem dos seus rins? Comemorado sempre na segunda quinta-feira do mês de março, o Dia Mundial do Rim é uma campanha global de conscientização sobre a saúde com foco na importância dos rins e na redução da frequência e do impacto da doença renal e seus problemas de saúde associados em todo o mundo. Conversamos com a Dra. Caroline Reigada, médica nefrologista, especialista em Medicina Interna pela Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo e em Nefrologia pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, sobre os principais cuidados que devemos ter com esses dois órgãos tão importantes:
Alimente bem seus rins e proteja-se do peso extra: “A dieta de padrão mediterrâneo ou a dieta DASH (Dietary Approaches to Stop Hypertension) são as mais recomendadas para pacientes que já têm ou querem evitar problemas cardíacos e renais”, diz a nefrologista. A alimentação saudável, como a dieta DASH, comprovadamente reduz a formação de pedras nos rins, além de diminuir a chance de diabetes e de pressão alta, grandes vilões para a saúde renal. A dieta DASH é baseada na alta ingestão de frutas, verduras, vegetais, nozes, legumes, laticínios desnatados, grãos integrais e na baixa ingestão de açúcares e carnes vermelhas ou processadas. Nessas dietas, são recomendadas proteínas vegetais ou animais, desde que sejam magras (de preferência peixe). Apesar de terem as mesmas bases, a dieta DASH permite mais fontes de proteína de laticínios com baixo teor de gordura e cortes de carne e aves, do que a dieta mediterrânea, que não foi criada como uma dieta específica, ela é um reflexo dos hábitos alimentares comuns nos vários países que fazem fronteira com o Mar Mediterrâneo. Cuidado também com o sobrepeso.
“A obesidade, doença crônica que acomete 1/3 da população de certos países, está diretamente ligada a diabetes e à hipertensão arterial. Quando o corpo fica maior devido ao acúmulo de gordura, os rins filtram em ritmo acelerado – o que chamamos de hiperfiltração – que a longo prazo leva à doença renal crônica, com um risco estimado de duas até 7 vezes maior do que em indivíduos sem obesidade”, destaca a Dra. Caroline.
Exercite seu corpo: Segundo a médica, o exercício físico tem sido associado à melhora da pressão arterial e controle do diabetes, além de um aprimoramento do funcionamento físico. “Apesar das recomendações atuais, as taxas de exercício na população geral permanecem baixas e o sedentarismo é um fator de risco crescente e preocupante no terceiro milênio. Sabendo que os benefícios cardiovasculares refletem diretamente na saúde renal, pode-se dizer que exercícios são benéficos para os rins. O exercício tem um efeito positivo em uma série de riscos de doença renal crônica, como inflamação crônica, doenças cardiovasculares e diabetes/ hipertensão. O maior efeito do exercício em pacientes com doença renal crônica é melhorar sua saúde cardiovascular e função vascular”, explica a Dra. Caroline Reigada.
Durma bem: “Pesquisas mostram que dormir poucas horas por noite leva à maior propensão a desenvolver perda da função renal. Mulheres que dormem 5 horas ou menos por noite, por exemplo, têm um aumento de 65% de chances de sofrerem rápido declínio das funções renais se comparadas àquelas que dormem 7 ou 8 horas por noite”, explica a médica nefrologista. “Privação do sono e os distúrbios do sono desafiam os vários sistemas do corpo a manter o equilíbrio funcional crítico chamado homeostase. Tal como acontece com a saúde de muitos outros órgãos do corpo, a saúde dos rins pode se tornar uma vítima de problemas de sono”, completa a médica. A nefrologista explica que os rins são dois órgãos do corpo que trabalham duro e podem sofrer as consequências a longo prazo do sono ruim.
“Mediadores inflamatórios e harmônicos simpáticos contribuem para o desenvolvimento de distúrbios que envolvem os vasos do coração e dos rins. Apneia obstrutiva do sono, distúrbios do ritmo circadiano, hipersonia (dormir muito) e insônia têm sido associados a uma série de distúrbios metabólicos. As evidências sugerem que os distúrbios do sono afetam o desenvolvimento da doença renal, possivelmente como resultado do meio inflamatório e da ativação simpática que ocorrem no leito vascular renal, o que danifica estruturas como a membrana basal glomerular e o aparelho tubular renal, partes anatômicas importantes para a filtração do sangue”, explica a médica. “A fisiologia renal pode ser negativamente afetada pelas perturbações do sono, incluindo a restrição do sono”, completa.
Tente relaxar: O estresse também é altamente maléfico para os rins. “Em situação de estresse, o cérebro estimula os nervos das glândulas adrenais para a secreção do cortisol, o que aumenta a pressão arterial e o nível de açúcar no sangue. Essa reação química, que é uma resposta do cérebro para proteger o corpo em uma situação de aparente perigo, quando em excesso, numa condição de estresse crônico, provoca a excreção pelos rins de fosfato em níveis fora do padrão, o que pode acarretar em fraqueza muscular, alterações na composição óssea e até mesmo na função renal”, diz a médica.
Gerenciar a pressão arterial: Muita gente não sabe, mas a pressão alta é um problema que não afeta apenas o coração. O rim, responsável por filtrar o sangue, é um órgão que pode sofrer consequências da hipertensão arterial. “Uma das funções dos rins é regular a pressão arterial pelo aumento ou diminuição do volume sanguíneo. Quando a pressão cai e o fluxo sanguíneo diminui, os rins secretam substâncias que atuam para fazer a pressão aumentar até o valor normal. A longo prazo, a hipertensão descontrolada pode levar a uma sobrecarga no funcionamento desse órgão, que pode culminar com a disfunção renal crônica ou falência renal. Por isso, é fundamental adotar meios de controlar o aumento da pressão”, explica a médica nefrologista.
A Dra. Caroline enfatiza que a insuficiência renal devido à pressão alta é um processo cumulativo que pode levar anos para se desenvolver. “Mas você pode limitar seu risco gerenciando sua pressão arterial. É importante ficar claro que esse cuidado é um compromisso para toda a vida. O paciente deve ter uma dieta bem equilibrada com baixo teor de sal, limitar álcool, ter um consumo adequado de água, praticar atividade física regularmente, gerenciar o estresse, manter um peso saudável, parar de fumar, tomar seus medicamentos corretamente e trabalhar em conjunto com o seu médico”, finaliza a médica nefrologista.
Fonte: *Dra. Caroline Reigada : Médica nefrologista, especialista em Medicina Interna pela Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo e em Nefrologia pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. A médica é especialista em Medicina Intensiva pela Associação de Medicina Intensiva Brasileira. Formada pela Faculdade de Medicina da Universidade de Santo Amaro, a Dra. Caroline Reigada participa periodicamente de cursos e congressos, além de ter publicado uma série de trabalhos científicos premiados. Participou do curso “The Brigham Renal Board Review Course” em Harvard. Atualmente é médica do Hospital Alemão Oswaldo Cruz. Instagram: @dracaroline.reigada.nefro