Muitos amam e não vivem sem café, outros são extremamente sensíveis a uma pequena xícara. Mas é necessário ter cautela com o consumo dessa bebida, que pode contribuir para certas deficiências nutricionais. Isso porque substâncias presentes no café, como taninos e cafeína, podem comprometer, por exemplo, a absorção de ferro, um nutriente presente nas carnes, vegetais folhosos e feijões, geralmente consumidos nas principais refeições. Esse nutriente, além de prevenir a anemia, funciona também como um combustível para que a hemoglobina, célula do sangue, transporte o oxigênio para todo o corpo, da cabeça aos pés. Por isso, sua deficiência pode impactar na queda capilar, palidez da pele e formigamento das pernas. Logo, para as pessoas com carências do mineral, o ideal é beber café duas horas antes ou depois das principais refeições para não prejudicar a absorção.
Outra combinação que requer atenção, principalmente para crianças, gestantes, lactantes, idosos e mulheres na menopausa, é o pingado: café com leite. Isso porque o café também pode interferir na absorção de cálcio. E, enquanto os idosos têm maior tendência à diminuição desse nutriente, as crianças têm necessidades elevadas de cálcio como resultado do intenso desenvolvimento ósseo e muscular. Entre os principais sintomas da falta de cálcio estão a confusão mental, espasmos musculares, fraqueza dos ossos, e formigamento nas mãos e pés. Além do cuidado com a absorção de cálcio por crianças e gestantes, esses grupos também são muito mais sensíveis à cafeína que a população em geral, portanto devem consumir quantidades muito restritas da substância. Lembrando que crianças menores de 12 anos têm contraindicação de consumo de qualquer bebida que contenha cafeína.
Outro nutriente cuja absorção pode ser comprometida é a Vitamina C, então o café deve ficar longe também de suco e vitamina batida de frutas cítricas para não dificultar a assimilação desse nutriente. É necessário estar atento, inclusive, em chás, como o mate e o verde, e refrigerantes à base de cola, pois a cafeína também está presente nessas bebidas.
No entanto, não é necessário eliminar de vez a cafeína da sua vida, até porque para muitos ela pode trazer benefícios, desde que consumida com moderação. O consumo recomendado é uma a quatro xícaras de café por dia, recém-preparado, não adoçado, sempre respeitando as necessidades individuais de cada paciente. Já a melhor forma de ingestão varia de acordo com o gosto de cada pessoa, podendo ser quente, frio, fresco ou gelado. Mas a maneira mais saborosa e saudável de obter os benefícios do café é moendo os grãos imediatamente antes do preparo e consumo que deve ocorrer logo depois. E, para aproveitar os benefícios da bebida o ideal é que seja sem açúcar ou adoçante. Lembrando que é necessário ter cuidado com o consumo excessivo da bebida, que pode levar à dependência das substâncias estimulantes do café, além de consequências indesejadas, como problemas de digestão e gástricos, alterações de ritmo cardíaco e pressão arterial, agitação emocional e distúrbios do sono.
Dra Marcella Garcez é Médica Nutróloga, Mestre em Ciências da Saúde pela Escola de Medicina da PUCPR, Diretora da Associação Brasileira de Nutrologia e Docente do Curso Nacional de Nutrologia da ABRAN.