A obesidade e as doenças associadas ao distúrbio já estão estabelecidas no Brasil, tornando-se um problema de saúde pública. Recentemente, o Ministério da Saúde informou que mais da metade da população sofre com excesso de peso. Dados divulgados pela Organização Mundial de Saúde (OMS) mostraram que 74% das mortes no Brasil têm como causa principal Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT), relacionadas principalmente à obesidade, síndrome metabólica e diabetes. A situação pode piorar no futuro, se não for combatido um dos principais causadores de todos estes problemas: o consumo excessivo de açúcar.
Contudo, segundo a nutricionista e diretora Científica de Nutrição da Associação Brasileira Low Carb (ABLC), Patrícia Ayres, trata-se de uma tarefa difícil, pois o açúcar se esconde nos rótulos dos produtos sob distintos nomes. Nesse sentido, é preciso antes de tudo definir mais claramente o que é açúcar. “As pessoas acreditam que açúcar é aquele pó branco que temos no açucareiro, mas não é só isso. Deve-se entender que açúcares são carboidratos e têm diversos nomes”, diz.
Conforme Ayres, há três tipos de açúcares (carboidratos) simples na natureza, chamados de monossacarídeos. São eles: glicose, frutose e galactose. Essas moléculas se combinam em pares, formando outros três dissacarídeos: maltose (glicose + glicose), que é o principal componente do malte usado na cerveja; lactose (glicose + galactose), que é o açúcar do leite; e sacarose ( glicose + frutose), também chamada de açúcar de mesa, aquele pó branco no açucareiro.
O amido representa também um problema potencial. Afinal, amido nada mais é do que várias moléculas de glicose que se unem, formando um polímero. São amido os diversos tipos de farinhas existentes no mercado: de trigo, de aveia, de mandioca, de milho etc. Estes alimentos são compostos de muita glicose. “Assim, quando comemos qualquer alimento que tenha amido, é como se estivéssemos bebendo um xarope de pura glicose, ainda que o gosto não seja doce”, relata a nutricionista.
São diversos os nomes do açúcar. Entre os quais: dextrose, extrato de malte, frutose, galactose, glicose, glucose, lactose, maltodextrina, maltose, mel, sacarose, xarope de glicose, xarope de malte, xarope de milho etc. “Tudo isso causa praticamente o mesmo impacto de glicose no sangue, além de ser bastante calórico e nutricionalmente pobre”, destaca Ayres.
De acordo com a diretora Científica de Nutrição da ABLC, não obstante o Brasil contar com uma legislação que estipula que os primeiros ingredientes nos rótulos devem ser os principais componentes do produto, é muito difícil identificar neles as informações referentes à quantidade de açúcar presente nos alimentos industrializados. Primeiramente, em decorrência do tamanho da letra desses rótulos, muitas vezes visível apenas com lente de aumento.
Em segundo lugar porque as informações disponibilizadas objetivam mais confundir do que explicar. Analisando os ingredientes de sucos de fruta em caixinhas, por exemplo, – que são alimentos bastante consumidos pelas crianças – a nutricionista observa que alguns deles informam não possuir conservantes, ou seja, apresentam-se como naturais. O que não significa, porém, que não contêm açúcar. Uma porção de 200 ml de suco costuma ter 21 gramas de carboidratos, que nada mais é do que 21 gramas de açúcar. “Para nosso corpo, não interessa a fonte do açúcar. O efeito na glicemia, no pâncreas, no fígado, será o mesmo”, afirma. Além disso, no caso do suco, poderá constar que não há açúcar acrescentado – o que é tecnicamente correto – mas, novamente, não faz diferença se o açúcar veio da cana ou da uva.
Algo semelhante acontece com as informações nutricionais presentes nas caixas de leite sem lactose. “Não existe leite sem açúcar (com exceção de leite ultrafiltrado, que é bastante raro), o que existe é leite com lactose digerida por uma enzima chamada lactase. O açúcar continua no alimento sob a forma de glicose ou galactose”, diz Ayres. Produtos diet também apresentam rótulos enganosos. A nutricionista explica que, por definição, diet é um alimento no qual foi retirado em sua totalidade algum ingrediente, podendo inclusive este ser o açúcar. Mas, como visto, vários outros ingredientes são metabolizados como glicose no organismo humano e essa definição permite que um produto seja denominado diet mesmo contendo grande quantidade destes ingredientes (como é o caso do amido), que são apresentados no rótulo sem qualquer tipo de aviso.
O modo mais fácil de contornar essa situação é evitar os alimentos industrializados e se alimentar de comida de verdade. “Não há rótulos em vegetais, frutas, ovos, carnes (peixe, ave, boi, porco)”, destaca. A nutricionista faz um alerta, porém, sobre as bebidas que costumam ser ingeridas pelas pessoas. “Prefira água” diz, enfatizando que sucos naturais são como comida, que não foram feitas para beber. Conforme a diretora Científica de Nutrição da ABLC, nos sucos de frutas retira-se toda a parte benéfica do alimento, como a fibra, deixando somente o sumo, que é quase puro açúcar.
Ciente dos perigos de certos alimentos industrializados e com o intuito de que as crianças desenvolvam consciência sobre alimentação saudável, a ABLC desenvolveu uma cartilha infantil em quadrinhos na qual informa de maneira prática o que é comida de verdade e onde se escondem os açúcares nos alimentos. Pais, educadores e população adulta em geral também recebem, com a cartilha, material de apoio a fim de compreenderem melhor a questão. A cartilha é digital e pode ser baixada gratuitamente em ablc.org.br.
Fonte: assessoria de imprensa