A maioria das pessoas vem ouvindo com mais frequência sobre os alimentos orgânicos nos últimos anos. Mas o que realmente são? E por que os consumir? O professor da pós-graduação em Controle de Qualidade dos Alimentos do *Instituto de Desenvolvimento Educacional (IDE) **Fábio Portella explica que alimentos orgânicos, seja in natura ou processados, são oriundos de um sistema orgânico de produção, que dispensa o uso de insumos, como pesticidas sintéticos, fertilizantes químicos, medicamentos veterinários, organismos geneticamente modificados, conservantes, aditivos e irradiação.
Porém, o especialista alerta que deve-se ainda considerar os contaminantes ambientais, inerentes à área do plantio ou criação, que entrarão em contato com o alimento. “Apesar de muita gente pensar que se trata apenas de um alimento sem agrotóxicos, a definição de orgânico é muito mais ampla, englobando o manejo de forma equilibrada do solo e demais recursos naturais, como água, ar, radiação solar, solo, topografia, clima, biodiversidade tanto, vegetal como animal e microbiana, conservando-os no longo prazo e mantendo a harmonia desses elementos entre si e com os seres humanos”, explica.
Para uma “verdadeira” produção alimentar orgânica vegetal, o plantio deve ocorrer através da utilização de fertilizantes (adubos), corretivos e defensivos agrícolas de origem natural e local, sem substâncias sintéticas tóxicas, além da utilização de sementes produtivas selecionadas a partir de um banco de sementes local. Já para produtos de origem animal, atenção deve ser dada à alimentação, pois agrotóxicos podem se acumular no tecido adiposo destes animais e ser consumido pelo ser humano.
Sobre os riscos do consumo a longo prazo de alimentos com uso de agrotóxicos, pesticidas e demais insumos sintéticos utilizados em plantios, Fábio Portella esclarece que eles possuem diversos efeitos nocivos à saúde. “Entre os malefícios, podem-se incluir distúrbios neurológicos, hematológicos e respiratórios, além de possuírem relação direta com alguns tipos de câncer e alergias, principalmente as sem causas ‘aparentes’.
Ainda segundo o especialista em controle de qualidade dos alimentos, já se observou a presença de DDT e outros agrotóxicos organoclorados no leite materno. Em gestantes, estudos tem demonstrado que alguns agrotóxicos utilizados como herbicidas simulam hormônios sexuais e interferem na formação do sistema reprodutor e determinação do sexo durante a formação embrionária. “O uso de agrotóxicos na lavoura é semelhante ao uso de antibióticos de maneira indiscriminada pela população humana, ou seja, com o uso contínuo, a praga da lavoura se torna resistente ao agrotóxico, obrigando o agricultor a utilizar agrotóxicos mais potentes para exterminá-la”, informa.
Mas, então, só deveríamos consumir alimentos orgânicos? Idealmente, sim. Até as frutas da estação, que são as mais indicadas para consumo, pois as condições climáticas são propícias para o seu cultivo, não garante integralmente que ela está isenta de agroquímicos, se não for cultivada de forma orgânica. De acordo com o Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), os alimentos cultivados em Pernambuco que tem apresentado as maiores concentrações de agrotóxicos são: pimentão, uva, pepino, morango, mamão, cenoura e abacaxi. Já os mais satisfatórios para o consumo humano no nosso estado, também informado por essa fonte, estão o alface, batata, arroz, cebola, feijão, laranja, maçã, manga e repolho.
Mesmo assim, como dito acima, para melhor qualidade de vida o ideal é ir em busca de alimentos orgânicos. Mas também tem se ouvido falar que alguns locais e produtores chegam a vender falsamente produtos orgânicos. Entre as dicas de Fábio Portella para diferenciar alimentos com agrotóxicos, sempre desconfiar das frutas muito “bonitas e perfeitas”. “Naturalmente, a superfície de todos os vegetais apresenta irregularidades. Nem todas as frutas são iguais, como é a aparência daqueles com agrotóxicos. E tente dar preferência às frutas da estação”.
Outra sugestão é ir atrás dos selos de certificações. Isso porque para que possam comercializar seus produtos no Brasil como orgânicos, os produtores devem se regularizar através da obtenção de uma certificação por um Organismo da Avaliação da Conformidade Orgânica (OAC), credenciado junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA, ou organizar-se em grupo e cadastrar-se junto ao MAPA para realizar a venda direta sem certificação.
** Fábio Portella é biólogo, mestre em Biotecnologia de Produtos Bioativos e professor de cursos de graduação e pós-graduação. Juntamente com os professores Neide Shinohara, Fátima Padilha e Victor Cabral, do departamento de Controle de Qualidade do Instituto de Desenvolvimento Educacional (IDE), é autor do artigo Insegurança Alimentar no Uso Indiscriminado de Agrotóxicos, que publicado na revista Higiene Alimentar.